São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Palmeiras já toca a taça com os dedos

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O futebol tem uma lógica implacável que costuma se preservar intacta em meio a todos os sortilégios que lhe temperam a história. E é essa lógica que levou o Palmeiras a tocar com os dedos a taça deste ano, antes mesmo das rodadas finais.
Esta tarde, enquanto Corinthians e São Paulo jogam suas esperanças, cada vez mais tênues, num jogo de vida ou morte, o Palmeiras relaxa diante do Ituano. Pode ser surpreendido? Claro que pode. Mas não deve. Pois joga um futebol compacto, sólido, equilibrado em todas as linhas. Tem uma dupla de zagueiros titular formada por dois jogadores altos, bons de cabeça, e suficientemente hábeis para saírem jogando com os companheiros –Antônio Carlos (que está contundido) e Cleber. Na lateral-esquerda, conta com um azougue de canhota indefensável –Roberto Carlos. No meio-campo, dois volantes que têm o domínio tático do jogo, cobrem com incrível fluência seus companheiros e sabem tocar a bola com elegância e precisão –César Sampaio e Mazinho. Como coadjuvantes, Zinho e Rincón, que se aproximam sempre com perigo dos dois avantes –um, hábil e veloz (Edílson); outro, cerebral e implacável no momento de decisão (Evair).
Somem-se a isso a experiência de quase todo o grupo e a tranquilidade adquirida pelos três títulos conquistados no ano passado, mais o comando competente de seu treinador Luxemburgo, e está aí o perfil em fortes traços de um campeão. Um campeão construído, peça a peça, com a frieza e a precisão da mais pura lógica.

O São Paulo, que ainda retém uma réstia de esperança, caso vença hoje o Corinthians, perdeu, ao longo desta temporada, embora tenha conquistado o bi mundial, esse traço que o caracterizou nos anos de glória. E um dos sintomas disso se revela na variedade incrível de sua escalação neste campeonato, como se Telê não tivesse até agora achado a formação ideal. Isso desestruturou seu meio-campo, onde se revezaram Doriva, Axel, Leonardo, Cafu, Juninho, Palhinha, Jamelli, Douglas, sei lá quantos, nas mais esdrúxulas combinações. E o meio-campo, gente, era o apanágio tricolor nas temporadas passadas. Na frente, apostou em Guilherme e, depois, em Euller, duas promessas, que seguem sendo ainda apenas promessas.
Já o Corinthians, que tem um contingente de excelentes jogadores do meio-campo pra frente, penou com sua linha de defesa, frágil e nada inventiva, de lateral a lateral, com a honrosa exceção de Henrique, que, por sua vez, passou mais tempo na enfermaria do que dentro das quatro linhas.
Ambos, porém, têm carisma e retrospecto. Quem sabe, a fria lógica não tenha um momento de distração e, desta vez, o sortilégio pregue uma das suas?

Depois da primorosa exibição do menino Ronaldo contra a Islândia, quarta-feira, em Florianópolis, até os mais empedernidos cronistas cariocas tentavam espantar a pulguinha atrás da orelha. O que mais se ouvia eram coisas assim: o Bebeto que se cuide com esse menino.

Viola certamente carimbou seu passaporte para a Copa. Sobretudo, pela dedicação e sentido de solidariedade que imprimiu ao seu futebol. Aliás, impressionante: no sábado, fez dois gols no Rio Branco; na quarta, lutou como um leão e deixou sua marca no gol da Islândia; no dia seguinte, depois de prestar suas homenagens a Senna, de manhã cedinho, à noite, meteu mais dois gols no Guarani. E hoje? Haja fôlego e músculos.

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