São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Leia a íntegra da carta de Alan Rothenberg

Sr. Otavio Frias Filho,
Diretor de Redação,
Esta carta refere-se à sua recente carta sobre o formulário de inscrição, enviado pela organização da Copa do Mundo EUA-94 aos meios de comunicação, que permitiria ao FBI e a outros organismos de segurança que fornecessem informações para o Comitê Organizador do Mundial de acordo com as leis vigentes.
Uma das principais responsabilidades do Comitê Organizador da Copa do Mundo é garantir a segurança do público, particularmente porque muitos chefes de Estado estarão presentes ao evento. Por isso, um sistema de credenciamento foi adotado para todas as pessoas que estarão trabalhando ou ligadas ao Mundial. Todos que estiverem a nosso serviço –contratados ou voluntários–, todos os integrantes da Fifa, das afiliadas, os que trabalharem nos estádios, os times, os patrocinadores, todos se submeteram à aplicação dos formulários.
Apenas a imprensa protestou. Como gostaríamos que ninguém usasse uma credencial de imprensa com o intuito de cometer um ato terrorista, é um risco que não podemos assumir. A imprensa seria a primeira a nos criticar se fôssemos tão negligentes em nossas precauções de segurança a ponto de não sabermos se nosso sistema de credenciamento estivesse sendo burlado.
E, ao contrário do que o sr. e outros membros da imprensa têm dito, é um costume em eventos internacionais, como Olimpíadas, Copas do Mundo e outros, que se tomem as necessárias providências de segurança. Esse tipo de procedimento foi também usado nos Jogos Olímpicos de 1984 (sabemos que exigências muito mais detalhadas são impostas aos seus repórteres credenciados para a Casa Branca, por exemplo). E valeu a pena. A imprensa publicou que, devido à checagem feita pelo Comitê Organizador de Los Angeles, evitou-se a entrada no país de seis terroristas disfarçados de membros da imprensa libanesa. E muitos outros incidentes ocorreram sem que tenham sido revelados ao público.
Gostaria de esclarecer a natureza da investigação em questão. O Comitê Organizador não receberá nenhuma informação do FBI ou outros organismos. De acordo com nosso pedido, eles irão analisar a ficha dos candidatos e simplesmente avisar ao Comitê Organizador se, baseado nesta análise, nós deveríamos observar mais cuidadosamente um pedido antes de aprová-lo. Não significa uma intromissão e, creio, é um pequeno preço que todos ligados à Copa de 94 têm de pagar para permitir que façamos nosso trabalho de garantir segurança e bem-estar a todos.
O credenciamento para a Copa do Mundo de 1994 é um um privilégio e não um direito. Queremos estar certos de que as credenciais para o Mundial sejam concedidas apenas a jornalistas e não a indivíduos que pudessem ter outros, talvez sinistros, objetivos em mente.
Tenho esperanças de que os funcionários da Folha de S.Paulo e outros membros de meios de comunicação que não tenham enviado seus formulários de autorização o façam o mais rapidamente possível para que possamos prosseguir com a importante missão de sediar a maior Copa do Mundo da história com a certeza de que todos os credenciados –particularmente aqueles que terão liberdade de se locomover em nossos estádios, vestiários, tribunas de imprensa, áreas de trabalho e outros locais aos quais é vedado o acesso do público e onde os melhores jogadores de futebol do mundo, celebridades, políticos e líderes nacionais estarão se misturando– estejam legitimamente lá e não como terroristas camuflados.
Atenciosamente,
Alan Rothenberg

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