São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Para cientistas, um mal cada vez maior

CLAUDIO CSILLAG
DA REDAÇÃO

A comunidade médica e científica começou a acumular muitos argumentos contra o tabagismo há cerca de 30 anos, quando o Secretário de Saúde Pública dos EUA divulgou um relatório relacionando o fumo ao câncer de pulmão.
Dois anos depois, em 1966, tornou-se obrigatória a advertência sobre os riscos à saúde nos maços de cigarro.
Desde aquela época, até agora há pouco, o alcatrão era o principal vilão da história. É ele o maior responsável pelo câncer de pulmão em fumantes.
Mas com a briga das últimas semanas, o alcatrão ficou para trás: os maiores vilões do momento, segundo autoridades médicas dos Estados Unidos, passaram a ser 1) as companhias de cigarro e 2) a nicotina.
As companhias, por serem acusadas de querer viciar os fumantes; a nicotina, por promover o vício e, portanto, colocar o fumante nos grupos de riscos associados ao hábito de fumar.
David Kessler, da FDA, mostrou que cigarros com baixos teores de alcatrão –atraentes aos fumantes por serem menos nocivos– possuem valores mais elevados de nicotina.
Ele mostrou também que esses cigarros vendem mais que cigarros normais.
Para Kessler, isso é muito sugestivo de que os fabricantes manipulem os teores de nicotina para viciar o fumante em marcas com baixos teores de alcatrão.
Ou seja, haveria a finalidade de fazer o fumante fumar –e comprar– em maiores quantidades.
Mais do que câncer, o tabagismo pode ser a causa –segundo uma infinidade de artigos científicos– de doenças do sistema circulatório, especialmente infartos.
Nos Estados Unidos, país onde se fazem muitas estatísticas, um quinto das mortes por doenças do sistema circulatório são atribuídas ao fumo.
Há vários estudos que relacionam o tabagismo a outros tipos de câncer e a distúrbios no sistema respiratório, como pneumonia e bronquite.
Está documentado também que gestantes que fumam têm risco aumentado de sofrer aborto espontâneo e de ter filhos com peso inferior aos filhos de não-fumantes.
Talvez o estudo que mais tenha dado munição aos militantes antifumo seja um relatório da Agência de Proteção Ambiental (EPA), dos Estados Unidos.
Divulgado em janeiro do ano passado, o relatório diz que pessoas que respiram o ar perto de um fumante também têm mais chance de desenvolver câncer.
(CCs)

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