São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Composição de cigarros brasileiros é sigilosa

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O que vem dentro de cada cigarro brasileiro é um segredo. O Ministério da Saúde não sabe. O Congresso Nacional, onde tramita projeto de lei restringindo seu uso, não tem idéia precisa. Os fabricantes de cigarro não contam.
Quem ligar para o serviço de atendimento ao consumidor da Souza Cruz, maior fabricante brasileiro, vai ouvir que no cigarro vem tabaco. Que também alcatrão e nicotina fazem parte da fórmula. Nada mais.
Se a ligação for feita para Ronaldo Costa, gerente de comunicação da Abifumo (associação que reúne os 46 fabricantes que produzem cerca de 48 marcas), o interessado pode ficar sabendo que "as indústrias processam uma mistura secreta onde vão papel, tabaco e agentes de sabor que caracterizam cada cigarro". Nenhuma outra informação.
Para o Ministério da Saúde, a fórmula também é um mistério: "Não sabemos. O cigarro não é regulamentado aqui. Só a advertência foi feita aqui", disse de Brasília Eduardo Formosinho, assessor do Ministério da Saúde.
O aviso a que se refere o assessor é aquele que acompanha todo o material publicitário –desde 1989 veiculado em revistas e TVs. O carimbo "O Ministério da Saúde adverte: o fumo é prejudicial à saúde", deve acompanhar obrigatoriamente comerciais de cigarro.
Como a advertência por enquanto é apenas portaria, o deputado Elias Murad (PSDB-MG) decidiu transformá-la em lei. Na Câmara já passou, "mas está encalhada no Senado", desabafa Murad, que se junta ao coro dos que não sabem a formulação do cigarro.
"O lobby dos fabricantes é forte", assegura o deputado.
Se for promulgada, a lei vai proibir cigarros em locais públicos fechados e propagandas do produto vinculadas a esportes olímpicos e bom desempenho físico ou sexual, entre outras restrições.
Um aspecto importante da lei, na opinião de Murad: "Aquela advertência deve ser trocada a cada três anos, senão fica banal e ninguém mais vai prestar atenção".
Procurada pela reportagem para comentar a composição do cigarro, a Souza Cruz não retornou as ligações.
A Philip Morris disse que a empresa, no Brasil, não estava autorizada a falar sobre esse assunto, mas que em Washington Anthony Andrade daria os esclarecimentos.
A Folha não conseguiu falar com Andrade até o fechamento desta edição.

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