São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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O desafio de Mandela

A vitória do CNA (Congresso Nacional Africano) nas primeiras eleições livres da África do Sul e a virtual indicação de Nelson Mandela como chefe do Estado que o manteve prisioneiro por 27 anos põem fim ao longo e conturbado processo de desmantelamento do apartheid. Constituem, porém, o início de um outro longo e conturbado processo, de combate ao perverso legado do regime racista.
De fato, passado o impacto da histórica vitória de Mandela, passadas as justificadas celebrações por parte de uma população antes privada de direitos fundamentais, a magnitude da tarefa diante do novo governo deve rapidamente substituir o júbilo pela sobriedade.
O desafio maior que se destaca é sem dúvida o de atenuar as desigualdades que rasgam a sociedade sul-africana no que se refere a distribuição de renda, níveis educacionais, indicadores sociais, desemprego. Para isso, porém, o novo governo terá de se equilibrar entre pressões da maioria negra –naturais até, ainda que pouco realistas– por uma melhora imediata das suas condições de vida e o cuidado de não hostilizar os brancos –que detêm o controle da riqueza do país.
À parte o complicador representado por essas tensões raciais, assim como pelos conflitos entre as tribos negras, os problemas econômicos e sociais do país não diferem muito dos do Brasil ou de qualquer parte do Terceiro Mundo. E como em todos esses países, o governo da nova nação sul-africana também enfrenta a difícil tarefa de provar que a democracia não dá apenas voto, mas também casa e comida.

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