São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Vôo conturbado

O PSDB chega às vésperas da convenção nacional que sacramentará seu candidato à Presidência, com início no dia 13, cercado de más notícias por todos os lados.
A principal delas é a crise no relacionamento com o PFL. O simples fato de o partido ter decidido fazer a sua convenção depois da decisão do PSDB e da prévia do PMDB é um sinal eloquente. Significa que o PFL, sem nomes próprios com chances de concorrer à Presidência, pode deixar de ser refém do PSDB.
Agora, esse atrelamento do PFL ao PSDB já não é necessariamente fatal. No dia 15, três dias antes da convenção do PFL, única instância autorizada a sacramentar a coligação, ocorrerá a prévia no PMDB. Se o ex-presidente José Sarney for o vitorioso, o PFL sentir-se-á livre para optar entre Sarney e FHC.
A lógica e o passado do partido autorizam a suposição de que a grande maioria dos pefelistas ficará mais à vontade na companhia de Sarney. O próprio ACM foi o único ministro civil de Sarney que permaneceu no cargo durante todos os cinco anos de seu mandato.
Uma segunda má notícia para os tucanos é a queda de FHC na última pesquisa do Datafolha. O ex-ministro recua dos 21% que chegou a obter em uma das situações pesquisadas no início de abril para 15% ou 16%, dependendo da hipótese proposta aos entrevistados.
Parece evidente que os 21% de abril não eram sólidos. Seriam mais uma consequência da intensa exposição de Fernando Henrique à mídia, enquanto titular da Fazenda e no período de lançamento de seu plano econômico, do que uma efetiva cristalização das intenções de voto em seu favor.
Como candidato, inexplicavelmente mergulhado numa negociação varejista em torno do candidato a vice, FHC ficou menos exposto aos refletores e perdeu parte importante de seu cacife eleitoral.
É razoável supor que esse fenômeno, mais as resistências internas à coligação com o PFL, explique o anúncio do deputado federal Waldir Pires (BA) de que pretende disputar com FHC, na convenção peessedebista, a indicação como candidato presidencial. Vai perder, é óbvio. Mas cria um constrangimento adicional para quem já os tem de sobra, em um momento bastante delicado da campanha eleitoral.
Quem tem tudo para festejar é Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Não só pela reafirmação da liderança cômoda, que já existia em pesquisas anteriores, mas pelo fato de ter agora a possibilidade de vencer no primeiro turno, hipótese pela primeira vez desenhada em pesquisas.

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