São Paulo, domingo, 8 de maio de 1994
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Segurança nas pistas e estradas; O ataque do Leão; Oxigênio que sacrifica; Lula e Hitler; Os mesmos no poder; Psicologia da bola

Segurança nas pistas e estradas
"Senna bateu a 300 km/h e nós fomos massacrados mais de 300 vezes com essa imagem que nos foi transmitida pelas TVs. Passamos horas de angústia e aflição esperando seu corpo ser liberado e trazido de volta à nossa terra. Por certo Senna nunca imaginou andar tão devagar em cima daquele carro de bombeiros. Chega de homenagens. O corpo de Senna deve estar cansado, a família dele despedaçada e os nossos corações doloridos com tamanhas emoções. Fique em paz, campeão."
Maria Angélica Dal Secco (São Paulo, SP)

"Mais uma vez a análise lúcida, precisa e brilhante de Janio de Freitas (Folha, 3/05) nos traz de volta à realidade. Domingo esperávamos mais a derrota de Schumacher que a vitória de Senna. Era necessário vingar a frustração das corridas anteriores. Era a oportunidade de revanche contra quem, em duas oportunidades, abalou nossa certeza de que este seria o ano do tetra na Fórmula 1. Desgraçadamente, projetamos em Senna tudo o que sempre sonhamos para nós mesmos e para esse simulacro de país em que vivemos: seriedade, competência e eficiência. Na sua grande sensibilidade, nosso campeão sabia o que esperávamos dele. Todos nós somos, de alguma forma, responsáveis pela tragédia. Há que pedir perdão ao Ayrton e a seus familiares. Nós precisávamos de um ídolo que devolvesse nossa autoconfiança. Esse nosso defeito foi um dos que o levaram à morte. E agora?"
Reinaldo Gamba, professor assistente da Unicamp (Campinas, SP)

"Toda a tristeza que inunda o país neste momento é, na realidade, a que sentimos por nós mesmos. Acreditamos que não haverá mais ninguém que possa vir a lavar nossa imagem novamente. Mas autopiedade tem cura. Precisamos lembrar que há muitos `Sennas' em potencial, que só precisam de um país decente para se desenvolver. Um bom começo para esse `país decente', entre muitas outras coisas, está nas mãos dos responsáveis pela segurança de nossas estradas, e também nas do povo, que deve exigir as medidas necessárias. Enquanto normas de segurança nas corridas de Fórmula 1 são o centro de acaloradas discussões na mídia em geral –porque perdemos um ídolo supostamente por falta delas–, centenas de brasileiros comuns viajam por estradas sem segurança, nem sempre por opção pessoal. Desses, muitos morrem em consequência de acidentes automobilísticos. Quantos destes ainda morrerão até que os responsáveis efetivamente entristeçam-se, mobilizem-se, ofereçam soluções?"
Isabel Pagano (Campinas, SP)

"Acelera Ayrton, acelera Ayrton, acelera. O grito-síntese das nossas exigências ainda ecoa nos seus ouvidos, misturado ao som surdo da batida. E se desdobra em todos os seus sentidos: acelere, ultrapasse, arrisque, atropele, derrape, rode, capote, decole, voe... Naquele dia, a morte se anunciou por todos os sinais. O homem percebeu, vacilou e tremeu. Mas o herói não teve escolha. Vestiu sua armadura mecânica e foi ao encontro dela. Nenhuma chance te demos, campeão. Essa é a mais dura verdade."
Jonas A. Almeida Neto (São Paulo, SP)

"O único interesse da corrida de automóveis reside no risco de vida dos pilotos. Manobras audazes, ultrapassagens perigosas e conduzir o carro no limite humano e da máquina é o que os aproxima da morte. São os gladiadores do nosso tempo. É essa coragem torta que os diferencia e não a tão propalada habilidade. Ganham muito para morrer ou perder um companheiro às vezes. Um piloto morre porque é piloto."
Mário Rui Feliciani (São Paulo, SP)

"Não dá pra não lamentar. Não dá para não chorar. Não dá pra não sentir. Não dá pra não dizer. Que você era e continuará a ser um eterno `pole position' para todos nós."
Luiz Valério P. Trindade (São Paulo, SP)

O ataque do Leão
"É com revolta e indignação que leio a carta dirigida a mim pela Receita Federal. Como médica sanitarista, tenho dedicado minha vida profissional à saúde pública. Os rendimentos que recebi como médica dedicada exclusivamente ao serviço público, por incrível que pareça, são somente aqueles que declarei e que foram considerados suspeitos (por serem tão baixos) pelo próprio serviço público. Esta é a recompensa de 15 anos de trabalho dedicado à população: além de ganhar pouco, ainda sou sutilmente acusada de sonegação."
Ana Maria Aratangy Pluciennik (São Paulo, SP)

"Meus amigos, outro dia me senti um cara rico, muito rico. Um verdadeiro tubarão. Recebi uma carta ameaçadora do sr. Osiris Lopes Filho, aquele da Receita Federal, que dizia para eu andar na linha, senão... Fiquei imaginando quantas cartinhas dessas o nobre deputado João Alves não deve ter recebido."
Francisco José G. D. Rabello (Araçatuba, SP)

Oxigênio que sacrifica
"Deflagrada a campanha `vote no novo'. Não reelejamos ninguém. Extirpemos do Congresso todos os `repetentes'. Oxigenemos a praça dos Três Poderes e as Câmaras estaduais e municipais. Ainda que sacrificando uns poucos que mereceriam reeleição."
Hélio Morgitz (Camboriú, SC)

Lula e Hitler
"É uma meia-verdade escrever que Lula considerou Hitler enérgico omitindo o contexto da frase. O livro de Joachim Fest, que não pode ser acusado de elogiar Hitler, descreve no capítulo inicial sua grande energia em contraste com a fraqueza e vacilação das outras lideranças políticas alemãs, na prolongada crise após a Primeira Guerra Mundial. Mostra a condescendência do sistema ocidental de alianças com o crescimento do nazismo. Fest critica os que não reconhecem as complexas dimensões do monstro nazista. Não há nada em comum entre as idéias de Lula e de Hitler, responsável pela dizimação dos sindicatos independentes alemães."
Luiz Pinguelli Rosa, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, RJ)

Os mesmos no poder
"No caderno Mais! ficou demonstrada a negociação de bastidor que fez das Diretas-já um trampolim para a manutenção das elites no poder. Dez anos depois, a mesma elite já negociou novamente uma forma de perpetuar seu poder: em vez da Aliança Democrática, temos a aliança PSDB-PFL. Os mesmos."
Fabiano Viotti (Caxambu, MG)

Psicologia da bola
"Está na hora de os clubes futebolísticos integrarem à sua comissão técnica profissionais da área da psicologia e que sejam conhecedores do futebol, para preencherem uma lacuna que existe quando se trata de observar, analisar e compreender a personalidade e o caráter de cada jogador. Por exemplo: Edmundo é indisciplinado, individualista e explosivo, mas é um craque como há muito não se via no futebol brasileiro depois de Garrincha. No entanto, sua arte é sacrificada pela estreiteza de seu técnico e pelo saudosismo e incompetência dos dirigentes da seleção brasileira. A indefinição ressalta mais ainda o excesso de individualismo de muitos jogadores que, na briga para garantir sua vaga, acabam pisando na bola. Não é justa a pressão imposta aos jogadores. A essa altura do campeonato, o técnico Parreira já que tinha que ter definido os 22 jogadores que vão à Copa."
Hélio Braz (São Paulo, SP)

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