São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994 |
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Planalto vê articulação com fins eleitorais
JOSIAS DE SOUZA
Os documentos foram preparados pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) e pelo setor de informações do Exército. Os textos, apresentados ao presidente sob a classificação de "confidencial", levantam a suspeita de que a CUT, braço sindical do PT, estaria promovendo uma suposta articulação nacional, com objetivos eleitorais. Os relatórios do governo registram a simultaneidade de várias greves em São Paulo (sete até ontem), a paralisação nacional da Polícia Federal e as várias manifestações de sem-terra chamadas de "Grito da Terra". No final da tarde, Itamar foi informado de que os sem-terra invadiram ou tentaram invadir o Ministério da Fazenda em Brasília e as delegacias da Fazenda em São Paulo, Maceió e Porto Alegre. A organização da ação militar foi cercada de cuidados. Em reunião convocada por Itamar, na terça-feira, com a presença dos ministros militares, mencionou-se a necessidade de evitar o "efeito Volta Redonda", referência ao episódio ocorrido em 88. Naquele ano, pouco antes das eleições municipais, operários da CSN (Cia Siderúrgica Nacional) foram mortos por soldados do Exército, convocados para coibir grevistas que ocupavam a fábrica e ameaçavam desligar os fornos. Em viagem aos Estados Unidos, Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT à Presidência, foi informado por parlamentares petistas sobre a ação do Exército. Lula manifestou preocupação quanto à possibilidade de exploração política do episódio. À noite, informado sobre as suspeitas do governo, o deputado Aloísio Mercadante (PT-SP), reagiu com indignação. Para refutar a tese de articulação da CUT, Mercadante lembrou que, durante a gestão de Luíza Erundina na prefeitura de São Paulo, os condutores de ônibus fizeram greve sete dias antes da eleição. "Se querem ajudar a candidatura oficial, do Fernando Henrique, tudo bem. Mas não venham com teses absurdas. As greves são motivadas pela inflação de 45%". O presidente comunicou a decisão de pôr as tropas na rua, na noite de terça-feira, aos presidentes da Câmara, Inocêncio Oliveira, e do Senado, Humberto Lucena. Mencionou a necessidade de "restaurar a lei e a ordem", referindo-se à greve da PF. Ontem, após o almoço, Itamar chamou os dois para uma conversa privada. Disse a ambos que, na sua avaliação, a ação do Exército havia demonstrado que "o governo não perdeu sua autoridade". Texto Anterior: `Eles precisam ficar em algum lugar", diz Flores Próximo Texto: Exército já interveio antes Índice |
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