São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Ghini defende a simplificação de formas

MARILI BRANDÃO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O italiano Massimo Iosa Ghini, nascido em Bolonha em 1959, passou por várias atividades antes de se tornar designer de móveis.
Arquiteto de formação, no início dos anos 80 trabalhava como desenhista de quadrinhos para conceituadas revistas, como as italianas "Alter Linus" e "Frigidaire".
Em 1985, desenvolveu objetos e cenografias para a RAI (Rádio e Televisão Italiana). No ano seguinte, começou a colaborar com a Memphis, criando imagens e objetos. Um ano depois, em 1987, projetou sua primeira coleção de móveis –Dynamic– para a empresa de móveis Moroso.
Esta coleção era composta por produtos que possuíam formas características do movimento bolidista (de bólide, uma referência às formas e ao volume de um objeto espacial que se move a grande velocidade).
A recuperação da relação forma-velocidade faz lembrar o "streamlining" norte-americano dos anos 50, que utilizava em produtos de uso doméstico os elementos aerodinâmicos do design automobilístico.
Neste época, o designer se torna conhecido e começa a trabalhar para várias empresas. Projetou a discoteca Bolido, nos EUA, e expõs em Tóquio, Paris e Milão.
Em 1990, Ghini projeta lojas para a Fiorucci. Há dois anos colabora com a Renault-Itália em projeto de espaços expositivos, incluindo os móveis das revendedoras.
É a partir dessa experiência que inicia contatos com a empresa italiana de móveis Cassina para o desenvolvimento de móveis, como o sofá que apresentou este ano no Salão Internacional do Móvel de Milão, o maior evento de design de móveis do mundo e que este ano se realizou em abril.
Em entrevista concedida à Folha durante o evento, falou sobre os rumos atuais de sua produção e do design em geral. E expressou, antes do acidente que matou Ayrton Senna, o desejo de que o piloto brasileiro coresse pela Ferrari.

Folha - Seu projeto desenvolvido para Cassina, apesar de possuir uma linha jovem, apresenta mais sobriedade que produtos anteriores. O que mudou?
Massimo Iosa Ghini - Antes meus produtos possuíam um traço mais forte. Hoje eu amadureci e aprendi a projetar e ir além do traço, me envolvendo com aspectos da produção e da tecnologia, desenvolvendo um design mais próximo ao sentido clássico do termo.
Folha - Como fica o estilo do móvel?
Ghini - É um móvel mais equilibrado, mais próximo ao significado histórico cultural do design. As linhas foram simplificadas e existe um controle maior da forma. Existe também um maior interesse pela pesquisa tecnológica.
Folha - No que consiste a inovação deste produto?
Ghini - Primeiro houve muita pesquisa de engenharia para desenvolver uma estrutura leve, mas também robusta e resistente. Uma mesma estrutura serve para a produção vários modelos. Segundo, houve a criação de uma nova estrutura de assento. Existe uma concha produzida por um tecido tensionado por tirantes que faz com que haja economia de material. E finalmente existe uma modulação formal do objeto.
Folha - Um produto assim, em que a estrutura metálica fica aparente, pareceria impensável na coleção Cassina. Que fatores facilitam hoje a penetração de um tipo de produto com essas características?
Ghini - Os tempos mudaram. Hoje, a ecologia é um fator importante. Por isso um produto que tem pouco material e é leve pode ser bem aceito.
Folha - O que era o bolidismo e o que fica deste movimento na sua atuação atual?
Ghini - Era uma leitura da realidade em um momento em que a característica determinante era a velocidade e que recorda momentos do "streamlining" norte-americano ou o futurismo italiano. É um movimento que ainda está vivo e está em continua evolução.
Folha - Sobre o Brasil, você teria algum comentário a fazer?
Ghini - Como bolidista convicto que ama a velocidade gostaria de ver Ayrton Senna correndo pela Ferrari.

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