São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994 |
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Ghini defende a simplificação de formas
MARILI BRANDÃO
Arquiteto de formação, no início dos anos 80 trabalhava como desenhista de quadrinhos para conceituadas revistas, como as italianas "Alter Linus" e "Frigidaire". Em 1985, desenvolveu objetos e cenografias para a RAI (Rádio e Televisão Italiana). No ano seguinte, começou a colaborar com a Memphis, criando imagens e objetos. Um ano depois, em 1987, projetou sua primeira coleção de móveis –Dynamic– para a empresa de móveis Moroso. Esta coleção era composta por produtos que possuíam formas características do movimento bolidista (de bólide, uma referência às formas e ao volume de um objeto espacial que se move a grande velocidade). A recuperação da relação forma-velocidade faz lembrar o "streamlining" norte-americano dos anos 50, que utilizava em produtos de uso doméstico os elementos aerodinâmicos do design automobilístico. Neste época, o designer se torna conhecido e começa a trabalhar para várias empresas. Projetou a discoteca Bolido, nos EUA, e expõs em Tóquio, Paris e Milão. Em 1990, Ghini projeta lojas para a Fiorucci. Há dois anos colabora com a Renault-Itália em projeto de espaços expositivos, incluindo os móveis das revendedoras. É a partir dessa experiência que inicia contatos com a empresa italiana de móveis Cassina para o desenvolvimento de móveis, como o sofá que apresentou este ano no Salão Internacional do Móvel de Milão, o maior evento de design de móveis do mundo e que este ano se realizou em abril. Em entrevista concedida à Folha durante o evento, falou sobre os rumos atuais de sua produção e do design em geral. E expressou, antes do acidente que matou Ayrton Senna, o desejo de que o piloto brasileiro coresse pela Ferrari. Folha - Seu projeto desenvolvido para Cassina, apesar de possuir uma linha jovem, apresenta mais sobriedade que produtos anteriores. O que mudou? Massimo Iosa Ghini - Antes meus produtos possuíam um traço mais forte. Hoje eu amadureci e aprendi a projetar e ir além do traço, me envolvendo com aspectos da produção e da tecnologia, desenvolvendo um design mais próximo ao sentido clássico do termo. Folha - Como fica o estilo do móvel? Ghini - É um móvel mais equilibrado, mais próximo ao significado histórico cultural do design. As linhas foram simplificadas e existe um controle maior da forma. Existe também um maior interesse pela pesquisa tecnológica. Folha - No que consiste a inovação deste produto? Ghini - Primeiro houve muita pesquisa de engenharia para desenvolver uma estrutura leve, mas também robusta e resistente. Uma mesma estrutura serve para a produção vários modelos. Segundo, houve a criação de uma nova estrutura de assento. Existe uma concha produzida por um tecido tensionado por tirantes que faz com que haja economia de material. E finalmente existe uma modulação formal do objeto. Folha - Um produto assim, em que a estrutura metálica fica aparente, pareceria impensável na coleção Cassina. Que fatores facilitam hoje a penetração de um tipo de produto com essas características? Ghini - Os tempos mudaram. Hoje, a ecologia é um fator importante. Por isso um produto que tem pouco material e é leve pode ser bem aceito. Folha - O que era o bolidismo e o que fica deste movimento na sua atuação atual? Ghini - Era uma leitura da realidade em um momento em que a característica determinante era a velocidade e que recorda momentos do "streamlining" norte-americano ou o futurismo italiano. É um movimento que ainda está vivo e está em continua evolução. Folha - Sobre o Brasil, você teria algum comentário a fazer? Ghini - Como bolidista convicto que ama a velocidade gostaria de ver Ayrton Senna correndo pela Ferrari. Texto Anterior: Ciclo homenageia Jean Renoir Próximo Texto: Doença do sono às vezes ataca a alma Índice |
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