São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Winnie e Buthelezi ganham ministérios

JOHN CARLIN
DO "THE INDEPENDENT", EM JOHANNESBURGO

O líder do Partido da Liberdade Inkatha, Mangosuthu Buthelezi, foi empossado ontem como ministro do Interior do novo governo de unidade nacional da África do Sul.
Mais surpreendente foi a indicação de Winnie Mandela ao cargo de vice-ministra das Artes, Cultura, Ciência e Tecnologia.
O ministro encarregado da pasta será Ben Ngubane, um dos mais próximos assessores de Buthelezi.
A senhora Mandela e o chefe Buthelezi, as duas figuras mais controvertidas da política sul-africana, tomaram parte na cerimônia de posse do novo gabinete realizada no edifício Union, em Pretória.
Pelas normas constitucionais o Inkatha tinha direito a três cargos ministeriais.
O terceiro ministro do partido foi Sipho Mzimela, que toma o lugar de Ahmed Kathrada, do CNA, o primeiro nome indicado para o cargo, como ministro encarregado das prisões.
Outras indicações feitas ontem (a maioria das pastas já havia sido preenchida no último fim-de-semana) foram Bantu Holomisa, ex-governador militar do Transkei, para vice-ministro do Meio Ambiente, e Joe Matthews, outro alto funcionário do Inkatha e ex-integrante do Partido Comunista, que se tornou vice-ministro da Segurança.
Pallo Jordan, um dos dirigentes do Comitê Executivo Nacional do CNA, foi nomeado ministro dos Correios e Telecomunicações.
Os círculos políticos já sabiam há alguns dias que a pasta do Interior havia sido oferecida ao chefe Buthelezi.
A dúvida era se ele iria aceitá-la, se em vista do antagonismo que nutre há muito tempo em relação ao CNA, ele estaria disposto a subordinar-se ao presidente Nelson Mandela.
Embora alguns de seus colegas do gabinete vejam sua indicação com desagrado, a determinação de Mandela em implementar uma política de inclusão significava que ele não tinha outra opção senão oferecer uma pasta importante ao líder do Inkatha. Mas o cargo não inclui o controle sobre a polícia.
A importância da inclusão do chefe Buthelezi no governo de unidade nacional é que ela reduz as chances de uma ressurgência da guerra entre Inkatha e CNA em Natal/KwaZulu.
A nomeação de Winnie Mandela não confere grande poder a ela, mas oferece uma plataforma de lançamento para desenvolver suas ambições políticas.
É curioso que ela tenha conseguido o cargo, apesar da antipatia com que é vista por seu ex-marido.
Winnie Mandela também tem um histórico criminoso. Apenas um ano atrás, ganhou sua apelação contra uma sentença de seis anos de prisão, por condenações em quatro acusações de sequestro e agressão.
Em 1990 seu principal guarda-costas, Jerry Richardson, foi condenado à morte pelo assassinato de Stompie Moeketsi, um dos quatro jovens sequestrados por ela.
A decisão do CNA de permitir o retorno de Winnie foi interpretada ontem, por vários observadores políticos, como uma iniciativa pragmática que visa impedi-la de criticar o novo governo desde as últimas fileiras do Parlamento.
O mal-estar que a indicação de Winnie Mandela certamente irá criar no país não se estenderá ao secretário-geral do Commonwealth, chefe Emeka Anyaoku, que confirmou ontem que a África do Sul será admitida para a organização "daqui a algumas semanas".
Seis integrantes do Movimento de Resistência Africâner, de Eugene Terreblanche, foram condenados à morte ontem pelo assassinato de quatro jovens negros.
É pouco provável que sejam executados, em vista do compromisso de longa data do CNA com a abolição da pena de morte.

Tradução de Clara Allain

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