São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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A volta do Urutu

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – As greves voltaram como não se via há muito tempo.
São Paulo amanheceu ontem praticamente parada. As greves dos motoristas de ônibus (municipal) e dos metroviários (estadual) provocaram grandes engarrafamentos em toda a cidade.
A onda de paralisações atingiu principalmente o funcionalismo estadual. Pararam professores, médicos e servidores da rede de sáude, funcionários que cuidam do abastecimento de água.
Além deles, estavam parados ontem os aeroportuários, os professores de universidades federais, auditores da Receita Federal e metalúrgicos do ABCD.
São categorias que reivindicam aumentos salariais sejam porque estão no mês de dissídio coletivo, seja porque pretendem compensações às perdas provocadas pela URV.
São sintomas de um período de extremo nervosismo na área econômica, provocado pelas incertezas quanto ao futuro do chamado Plano Real, que sucede o Plano FHC.
A sensação de perda é generalizada e as vantagens prometidas ainda não estão vislumbradas. No fundo, poucos acreditam que o plano vai dar realmente certo e que não está contaminado pelo vírus da eleição presidencial.
Ontem o governo Itamar Franco adicionou mais uma pitada de loucura neste caldeirão de insegurança ao determinar a intervenção do Exército na Polícia Federal.
Como milhares de outros trabalhadores, os policiais federais também estão em greve. No caso, há quase dois meses. Querem, como milhares de outros trabalhadores, aumento salarial.
É certo que os grevistas ultrapassaram todas os limites do bom senso. Tentaram intimidar o governo com a arrogância própria da carreira. Mais: infernizam a vida do cidadão comum ao privá-lo de serviços públicos.
Mas daí a colocar o Exército nas ruas, como aconteceu na madrugada de ontem em São Paulo e em Brasília, vai uma distância grande que evidencia a fragilidade do governo Itamar.
Ficou quase dois meses inoperante diante de uma greve simples, refém como sempre do corporativismo que domina o país. Quando decidiu agir, usou uma bomba atômica.

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