São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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O que falta a Lula

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Estão sendo divulgadas as primeiras listas oficiais da denúncia do procurador Biscaia sobre o envolvimento de autoridades com o jogo do bicho. De duas, uma: ou o procurador errou antes ou está errando agora. Na virada de 2 para 3 de abril, data da desincompatibilização do governo daqui do Rio, ele estourou uma bomba de dois estágios: a) o bicho tinha ligações com a droga; b) toda a cúpula do governo Brizola (menos o próprio Brizola) estaria envolvida na corrupção do bicho.
Quarenta dias depois, surgem os primeiros nomes na denúncia formal do Ministério Público. Para chegar a essa lista, o próprio Biscaia expurgou os nomes polêmicos. Nomes polêmicos, por exemplo, foram os membros de tribunais superiores que ele anunciou estarem envolvidos com Castor de Andrade. Posteriormente, outros nomes também deixaram de figurar na lista, inclusive um tal de J.V. que o jornal "O Globo" garantia ser o do filho do governador Brizola. Mais uma vez, de duas, uma: ou o governador comprou a consciência do sr. Roberto Marinho, pedindo o arreglo, ou o jornal do sr. Marinho insuflou o procurador para botar na lista o J.V.. Assim, imprensa e Judiciário seriam cúmplices numa armação político-eleitoral.
De espantar, sobretudo, o fato de não mais se falar na conexão bicho-droga. Pela terceira vez, de duas, uma: ou a conexão bicho-droga subornou Justiça e imprensa ou houve precipitação e leviandade na acusação. De qualquer forma e em qualquer hipótese, o procurador Biscaia não se saiu bem no episódio. Pela quarta e última vez, de duas, uma: ou ele vazou ou deixou que vazassem listas macetadas, com nomes infiltrados, colocando-se a serviço de forças eleitorais tão suspeitas quanto as da contravenção que pretendia combater.
Leio, num desses jornais internos do PT, artigo de um dos intelectuais do partido sobre o assunto. Lembra os editoriais de "O Globo". Acredito que Lula ainda não bateu nos 60 ou 70% das pesquisas por causa de gente assim. O dia em que se livrar do aparelho intelectual do partido –integrado por candidatos a editorialistas de "O Globo" e a "gaulleiters" da cultura nacional– a candidatura dele tornará inútil o segundo turno.

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