São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Olinda é um grande festival de cores

PAMELA J. PETRO
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Olinda se ergue como um castelo de areia feito por crianças na praia. Seu centro colonial, fundado em 1535, se agarra a um conjunto de colinas que dão para o mar.
A cidade é conservada como distrito de preservação histórica. Desde 1986 nenhuma nova construção foi autorizada.
O inevitável acréscimo de casas, hotéis, lojas e restaurantes mais recentes se acumula na base das colinas e ao longo da linha da praia, como areia que deslizou do topo do castelo.
Nos últimos dez anos, a praia de Olinda sofreu uma erosão quase completa, levando a maioria dos turistas a optar por Boa Viagem, bairro chique de Recife.
Festival de cores
Nada que os guias de turismo falam sobre Olinda prepara para o festival de cores que é a cidade.
Todos os tons de vermelho, que percorrem o espectro até chegarem ao índigo e coral, se justapõem ousadamente à cor de abóbora e ao azul-turquesa radical.
O centro da cidade velha foi designado como zona exclusivamente residencial, numa iniciativa incomumente rígida para os urbanistas brasileiros.
Essa paleta é aplicada a fileiras de casas que ostentam pátios internos, varandas, grades e portões de ferro trabalhado, azulejos e telhados vermelhos.
É como se a arquitetura simples do norte de Portugal –cujas marcas são as paredes brancas caiadas, com contornos marcados em granito cinza– celebrasse um encontro com o arco-íris no Brasil.
Tranquilidade
Como a cidade velha é em sua maioria residencial e livre de trânsito (os habitantes locais estão autorizados a transitar de carro depois das 18h), pode-se passear por Olinda numa tranquilidade assombrosa, diferente do reinante na maioria das cidades brasileiras.
Há pelo menos 18 igrejas na cidade velha que datam dos séculos 17 e 18, e algumas do século 16.
Todos os exteriores seguem as normas simples e agradáveis do barroco brasileiro: paredes brancas com portas e janelas de contornos cor de mel e portas de madeira pintadas de verde-floresta. Seus interiores, porém, são exercícios do uso excessivo do dourado. O contraste é extraordinário.
Em 1630 os holandeses saquearam Olinda e incendiaram muitas igrejas. Uma destas era o Mosteiro de São Bento, erguido originalmente em 1582 e só reconstruído em meados do século 18.
Hoje o mosteiro se localiza no centro de uma grande praça, entre duas fileiras ordenadas de palmeiras. A geometria é interessante: simples, mais graciosa do que severa, com um rondel intricado sobre a entrada e um baixo-relevo retratando o timbre da ordem beneditina no frontão triangular.
Uma das poucas igrejas que os holandeses não destruíram foi a Igreja da Sé, construída em 1537. Ela fica no Alto da Sé, a praça mais alta de Olinda, de onde se pode acompanhar a curva da praia, levando até os arranha-céus de Recife, ao longe. A vista é margeada pelas palmeiras que se agarram aos morros de Olinda.
Santuário visual
Dentro da Igreja da Sé, encontra-se um santuário visual. Em lugar do frenesi costumeiro de ornamentação dourada barroca, há uma abóbada cilíndrica pintada em tom terra claro, apoiada por paredes caiadas de branco. As janelas de clerestório, única decoração da igreja, deixam passar a luz solar em trapezóides amarelos. Dá para descansar os olhos na semipenumbra rosada.
Voltando à rua, retoma-se o passeio pelo emaranhado de estreitas e íngremes vielas de paralelepípedos de Olinda. Perto do Mercado da Ribeira, o antigo mercado de escravos que hoje vende artesanato para turistas, encontramos um homem montado numa escada, que pintava sua casa do mesmo tom de azul elétrico que seu caminhão, estacionado diante dela.
As únicas exceções neste universo todo azul eram o calção branco que ele vestia e os contornos brancos das janelas de arco gótico de sua casa. O azul de sua casa se destacava entre as vizinhas, amarelo claro e cinza, mas não fazia sombra a uma residência do outro lado da rua, em tom abóbora estilo pôr-do-sol.
Na rua paralela ao Mercado da Ribeira fica o Museu de Arte Contemporânea. Os objetos que ele contém, que incluem coloridas aquarelas feitas pelas crianças das escolas de Olinda, parecem ser uma extensão do que se vê nas ruas da cidade.
A maciça construção do século 18 serviu como cadeia durante a Inquisição, e suas portas gigantescas, com enormes buracos de fechadura, estão ali para prová-lo.
Em frente ao museu, os soldados da infantaria da arte de Olinda somavam-se aos persistentes guias juvenis que se encontram por toda a cidade, e aos vendedores ambulantes que carregam álbuns de gravuras para vender a turistas, por US$ 1 cada.
A maioria desses trabalhos é reprodução de foto, mas elas captam tão bem o esquema de cores de Olinda que vale a pena comprar.

Tradução de Clara Allain

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