São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Como um gato ágil, Cingapura ganha briga com tigres asiáticos

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL A CINGAPURA

Cingapura ganha dinheiro com a água que não tem. Não se trata de provérbio local. Sem rios suficientes, o governo compra água da vizinha Malásia, trata–a, consome o que precisa e vende de volta o que sobra.
Faz isso com a matéria-prima que não tem e com produtos que não fabrica. Segue a mesma política até com os porcos. Sem espaço para criá-los, Cingapura fez um acordo para construir 167 granjas em território da Indonésia.
Como a mão-de-obra lá é mais barata, os cingapurianos pagam pelo porco menos do que cobram nossos açougues.
Não se planta mais nada na ilha, exceto árvores nos parques e flores nos jardins. Os 3% de terra reservados a hortas e pomares viraram áreas verdes. Pescadores transformaram os barcos em "taxi-boats".
Nem por isso os preços subiram. Os bufês de salada são fartos nos hotéis. Nos mercados de alimentação, as carnes e frutos do mar são variados e baratos.
Em tamanho, Cingapura não é nada. Tem 633 km2, 2,2 vezes menos que o município de São Paulo. Sem matéria-prima nem espaço para crescer, Cingapura apostou na posição estratégica que ocupa no Sudeste Asiático.
Apertada entre a Malásia e o arquipélago da Indonésia, a ilha é o caminho mais curto entre o Extremo Oriente e a Europa.
Sete séculos atrás, o viajante Marco Polo já tinha notado isso. Mas foi o agente da Companhia Britânica das Índias Orientais, Thomas Stamford Raffles, que soube tirar proveito.
Em 1824, Raffles comprou a ilha e anunciou o propósito de transformá-la em "porto aberto, sem taxas nem restrições". Virou herói nacional. O porto é hoje uma das maiores fontes de rendas do país e o segundo do mundo em movimento de contêineres.
Para derrubar os custos com combustíveis, Cingapura construiu uma refinaria gigantesca. Sem espaço para grandes parques industriais, investiu em tecnologia de ponta. Especialidade: importar componentes eletrônicos e química fina e exportá-los em forma de produto final.
Para atrair investimentos, o governo cortou impostos e ofereceu incentivos. Ganhou capitais japoneses, europeus e norte-americanos. Como um gato ágil, a cidade-Estado vem ganhando a briga com os tigres asiáticos.
Cingapura já é a segunda economia da Ásia. A inflação está abaixo dos 2,5% ao ano, a taxa anual de crescimento na última década supera os 7,1% e o índice de desemprego é inferior a 2%.
As previsões são mais animadoras: estudo do Instituto Internacional para o Desenvolvimento, da Suíça, prevê que no ano 2010 Cingapura será a sexta economia mais competitiva do mundo.
Outra alça deste sucesso é o turismo. Como um Thomas Raffles da época dos jatos, o país construiu um sofisticado aeroporto, incentivou a indústria hoteleira e reduziu a quase nada os impostos sobre importação e comércio.
Resultado: Cingapura concentra hoje mais de 50 shopping centers e 70 hotéis de luxo.
Quebrando a paisagem dos grandes edifícios de vidro, estão os parques que somam quase 5.000 hectares –zôo, parque dos pássaros, das borboletas e das orquídeas. Na falta de praias, o governo comprou areia dos países vizinhos e construiu um balneário.
O investimento vem retornando generosamente. Só no ano passado, o país recebeu 6 milhões de turistas, duas vezes mais que sua população. E continua esperando mais.

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