São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Argentino era questionado sobre sexo no Brasil

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos mais respeitados hospitais argentinos, o Hospital Alemán de Buenos Aires, manteve durante um ano duas perguntas aos doadores de sangue de seu hemocentro: O sr. (a sra.) viajou ao Brasil recentemente? Manteve alguma relação sexual durante a viagem? Em 1993, cerca de 750 mil argentinos viajaram ao Brasil.
As perguntas foram retiradas depois de um protesto formal encaminhado pela embaixada brasileira em Buenos Aires à chancelaria.
O embaixador brasileiro, Marcos Azambuja, disse à Folha, por telefone, que as perguntas eram um "disparate científico".
O próprio vice-chanceler argentino, Fernando Petrella, solicitou à direção do hospital a retirada das perguntas.
O diretor do hospital, Manfred Fisher, 58, disse em uma entrevista telefônica que a instituição não quis causar constrangimento com o questionário, e que as perguntas deixaram de ser feitas há aproximadamente dois meses.
O hospital fica em uma das áreas mais ricas de Buenos Aires. Foi criado há 125 anos e é considerado um dos centros de excelência médica do país. É uma instituição privada e cara.
O chefe do setor de hemoterapia do hospital, Ewald Schmee, 56, também insistiu na ausência de qualquer intenção discriminatória.
"O questionário inclui uma série de indagações sobre a vida do doador, e o Brasil não é o único país a respeito do qual perguntávamos", disse Schmee. "O hemocentro recebe cerca de 150 doadores por mês; um em cada 500 doadores é soropositivo, e precisamos tomar o maior cuidado com nossos pacientes".
"Infelizmente, temos que perguntar se o doador esteve em regiões com maior incidência de soropositivos do que a nossa", disse.
As perguntas não se referiam, segundo ele, a relações sexuais entre argentinos e brasileiros, na Argentina. Também não tratavam da forma da relação, do número de parceiros e da condição particular destes eventuais parceiros.
Perguntado se isto não invalidaria o sentido da anamnese (o questionário feito ao doador ou ao paciente) Schmee disse que com o crescimento de casos de Aids as perguntas aos doadores tornam-se cada vez mais delicadas. "Já tivemos problemas com organizações homossexuais, por exemplo".

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