São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Militarizando as guardas civis

BISMAEL B. MORAES

Se a pessoa humana é ser pensante, jamais poderá confundir interesse coletivo ou social com benefício corporativo ou grupal. Um é finalidade precípua da administração estatal; o outro, pelo uso irregular dos bens públicos, é predatório.
Porém, como o intelecto e a moral nem sempre caminham juntos, encontram-se, com frequência, pessoas portadoras de títulos universitários e outras que têm fácil acesso à mídia à procura de destaque pessoal –quiçá à espera de um cargo futuro para o seu currículo– e jamais pensando na sociedade.
Em regra, defendem o que acham politicamente correto ou popularmente digerível, mas nem sempre o socialmente necessário, tudo com o fim de não ferir suscetibilidades. Assim, deliberadamente, colaboram para manter o povo desinformado sobre o que lhe diz respeito.
É o caso de manifestações escritas e faladas, de algum tempo a esta data, sobre o choque de atribuições entre as Polícias Militares e as Guardas Municipais (Guardas Civis). Certos articulistas, e mesmo algumas autoridades desinformadas, esquecem dos verdadeiros interessados em tais atritos.
Além do silêncio sobre a extinção arbitrária das Guardas Civis –corporações desaparecidas por influência das PMs à época do presidente Médici, deixando o povo órfão de policiamento preventivo–, calam-se no que tange à autonomia dos municípios, ao desagrado das milícias estaduais com o artigo 144 da "Constituição Cidadã" de 88 (criação das GMs) e à anuência dos Executivos municipais em transformar suas guardas em "militares", fazendo-as usarem coturnos à moda PM e nomeando-lhes comandantes militares.
Observa-se o paradoxo: as PMs são contrárias às Guardas Civis no policiamento e no atendimento à população, mas os prefeitos escolhem oficiais superiores das PMs para comandar referidas guardas (São Paulo, Rio de Janeiro, João Pessoa e outros municípios).
Esses comandantes estariam ali para fazer crescer o conceito das Guardas Civis, a serviço da coletividade, ou mais ligados às suas próprias corporações? Não parece lógico que, quanto mais desacreditada a Guarda Municipal, melhor para os PMs, diante do povo desinformado e inseguro? Pensar não ofende.
Travestindo os guardas como policiais militares, as Guardas Municipais jamais farão frente às PMs, por mais ineficientes que estas sejam no policiamento preventivo. É preciso evitar cabrito cuidando de horta e pensar na segurança para o povo.

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