São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Desabam vendas de roupas de frio

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A onda de calor que tomou conta da região Centro-Sul do país nas duas últimas semanas e os preços altos derrubaram as vendas da coleção de inverno.
"Neste mês, os negócios caíram pela metade em relação a maio de 93", diz Henrique Melman, presidente da Associação dos Lojistas do São Paulo Mart Center.
Esse shopping reúne 550 atacadistas do setor de vestuário, 85% dos quais são confeccionistas.
Melman credita parte do recuo ao calor e parte ao preço alto. O vestuário foi o item que mais subiu na primeira quadrissemana de maio, segundo o índice de inflação da Fipe (leia texto nesta página).
Os lojistas confirmam a retração. A Jean Daniel, por exemplo, registrou queda de cerca de 35% nos primeiros dez dias de maio sobre igual período de 93.
A informação é de Nazareth Danielian, dono da empresa. Ele diz que, em anos normais, teria feito encomendas três vezes maiores.
Até agora, no entanto, a Jean Daniel conseguiu vender só 20% do estoque de inverno.
Resultado: a empresa suspendeu as compras de artigos mais pesados. Só está adquirindo peças de meia-estação.
O objetivo, diz Danielian, é garantir um faturamento mínimo para pagar as despesas do dia seguinte.
A Modélia, especializada em roupas femininas de malha, adotou estratégia semelhante.
Depois de registrar um recuo de 20% nos negócios até o dia 10 de maio, resolveu enfatizar nas vitrines as roupas de meia-estação.
Com isso, pretende cobrir sua necessidade de capital de giro, informa Michel Hollander, diretor comercial da empresa.
A estratégia de promover a venda de roupas mais leves é visível em boa parte das lojas dos shoppings: não faltam anúncios facilitando o pagamento. Pelo preço à vista é possível levar as sobras do verão, com dois ou três cheques.
"Também estamos buscando dinheiro no mercado financeiro", conta Hollander. Grande parte do seu estoque de inverno é de malha pesada e os artigos de verão já foram totalmente liquidados.
A queda nas vendas teve reflexos nas negociações entre as confecções e as lojas.
"Não está havendo cancelamento de pedidos. Mas existem indústrias que estão sendo procuradas pelos lojistas para postergar as entregas", conta Eduardo Costa, diretor da Abravest, que reúne a indústria de vestuário.
A renegociação de prazos, segundo ele, estaria ocorrendo com os confeccionistas que trabalham sob encomenda.
Para a indústria, esticar as entregas significa ter de bancar um custo de estocagem de, no mínimo, 1,70% ao dia. Isso, se for levada em conta apenas a inflação mensal de 45%.
Esse custo, no entanto, acaba sendo neutralizado porque os preços estão em Unidade Real de Valor (URV), lembra Costa.
Nas indústrias que trabalham com pronta entrega a situação é diferente.
Como elas têm agilidade para redirecionar a produção, desde o final de abril algumas passaram a fabricar roupas com tecidos mais leves, informa Costa. Com isso, pretendem atender a procura dos lojistas no curtíssimo prazo.
Outras confecções, como a Best Dress, de pequeno porte, resolveu suspender a produção no começo deste mês, conta Júlio Jong Baecha, proprietário.
Em épocas normais, ele continuaria a produzir até meados de junho. Como suas vendas recuaram 30% em maio, Baecha deu férias coletivas para metade dos funcionários e renegociou as datas de pagamentos junto aos fornecedores.

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