São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 1994
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Ontem e hoje

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – A ocupação da Companhia Siderúrgica Nacional pelo Exército em 88, em Volta Redonda, durante greve dos metalúrgicos, resultou em 3 mortes e 40 feridos.
Era o governo José Sarney. As mortes ocorreram no dia 9. Uma onda de indignação varreu o país. Dias depois, em 15 de novembro, houve eleição para as prefeituras.
Na cidade de São Paulo venceu a candidata do PT, Luiza Erundina, que começara a campanha praticamente sem chances. Foi o efeito Volta Redonda.
Estamos novamente com o Exército na rua. Foi uma ação pacífica. Mas as imagens da ocupação da praça dos Três Poderes e da proximidade de tanques do Congresso são sempre chocantes.
É verdade que o momento é outro, que é outro o país. Não tivemos mortos e é possível que a ação militar apresse uma solução para a greve dos policiais federais, o que será positivo para todos.
Mas há um incômodo denominador comum entre aquele novembro de 88 e os últimos dias. Não é o Exército, não é a expansão do grevismo, não é a crescente presença do PT e da CUT.
O problema está na Presidência da República. Na incapacidade, ontem como hoje, de negociar. Na imaturidade, ontem como hoje, para o jogo democrático. Na vulnerabilidade, ontem como hoje, às pressões organizadas.
Ontem como hoje, os problemas não são resolvidos na hora certa. Temos ministros fracos porque temos presidentes politicamente fracos. E quanto mais fracos, mais demonstrações de força são tentados a experimentar.
Foi assim no início do ano com a crise que tomou ares de institucional, armada artificialmente no Planalto contra o Supremo Tribunal Federal.
É assim agora quando, depois de quase dois meses assistindo inerte aos abusos dos grevistas, usa o Exército para resolver um problema trabalhista e fazer funcionar uma repartição pública.

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