São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Fundão pode acabar antes do real

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O antigo fundão está morrendo de inanição, enquanto o novo, atrelado à URV (Unidade Real de Valor), desponta como alternativa.
Na comparação entre as duas modalidades, Marcelo Maneo, 33, superintendente de investimentos do Unibanco, não tem dúvidas em apontar vantagens para a nova.
"O antigo rende a URV e um juro negativo de 5% ao ano; o novo paga, dependendo da composição de carteira, URV mais 5% a 10% de juros positivos ao ano".
O principal problema da nova modalidade é a bitributação.
O investidor paga IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre os resgates até o 15º dia útil e mais 30% de imposto sobre o ganho que supera a variação da Ufir.
Nos saques diários o rendimento fica menor do que a variação da URV –perde da inflação.
Este problema será resolvido no curto prazo, diz Carlos Augusto Bandeira, 41, administrador dos fundos do Bamerindus. "O BC deve divulgar nova regulamentação nos próximos dias."
O fundão em URV do Bamerindus será lançado brevemente. O do Unibanco registrou patrimônio de US$ 4,5 milhões no dia 12.
O problema do antigo fundão é outro: até acabar o saque é diário, mas parte da carteira não tem liquidez imediata.
Quando foram criados, no Plano Collor 2, fixou-se em 3% da carteira, no mínimo, a parcela investida em quotas do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS).
O FDS é gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF). Seus recursos seriam destinados a obras sociais, como habitação popular.
A informação é do gestor do FDS e diretor-financeiro da CEF, Almir Galvão Regis Gouveia.
Gouveia diz que técnicos do ministério e do Banco Central estudam uma solução para o problema. "Nos próximos dias deve sair medida provisória permitindo que o FDS seja alocado na carteira de outros fundos de investimentos."
Os fundões estão emagrecendo faz tempo. Sucumbiram, descreve Fábio de Oliveira, 31, administrador dos fundos do Boston, na competição contra outras alternativas, como os de commodities.
A contínua onda de saques obrigou os administradores a efetuar o resgate dos títulos, obedecendo a regra estabelecida: o último da fila é o do FDS.
Resultado: "O FDS representa hoje de 3% a 5% das carteiras dos fundos de grandes bancos e percentuais maiores nas demais instituições", diz Oliveira.
Sabendo das dificuldades, já em outubro de 93 o BC divulgou a circular 2.373, permitindo a constituição de provisões contra perdas com o FDS.
Dependendo do comprometimento da carteira de aplicações com o FDS, o impacto das provisões será diferenciado sobre a rentabilidade dos fundões. Até a CEF fez provisão.
Provisionar, no caso, significa retirar uma parte dos recursos do fundão para cobrir perdas. "Caso contrário, o que seria injusto, os últimos a sair pagam a conta", afirma Oliveira.
Maneo diz que nenhum investidor sairá perdendo. "Mesmo que os administradores não sejam obrigados por lei, ninguém vai deixar que a imagem de um banco saia arranhada por causa de 3%".
Maneo e Bandeira dizem que o patrimônio de seus FAFs ficou inalterado nas últimas semanas.

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sobre fundos e CDBs nas págs. 2-3 e 2-4.

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