São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Nem derrota ofusca brilho do campeão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Para o palestrino, uma vitória hoje sobre seu mais antigo rival será a conquista do paraíso, um vale verdejante, com rios de leite e mel. E um fiapo de fel escorrendo insidiosamente rumo ao coração corintiano. Vice-verso, seu endereço, segundo mestre Adoniran.
Sim, porque ao corintiano, depois de manter acesa a esperança do título ao longo de quase todo o campeonato, só uma vitória esta tarde sobre o eterno inimigo haverá de redimi-lo. O gostinho da água no chope.
Nem uma derrota diante do Corinthians, porém, ofuscará o brilho das faixas de campeão que os palestrinos orgulhosamente ostentarão a partir de hoje. Campeão, uma vírgula. Bi, um título que há mais de meio século é perseguido silenciosamente por esse time.
Pois se quase sempre ganha o melhor, nem sempre a superioridade do campeão é tão flagrante como a revelada pelo Palmeiras neste campeonato. Sobretudo, se levarmos em conta que raramente um torneio desses é disputado com o Trio de Ferro tão afiado.
Há pouco tempo, o tricolor foi bi, também, mas, enquanto ele vivia um instante único de euforia técnica e tática, Palmeiras e Corinthians afundavam-se em negra depressão. Formou-se um Grand Canyon entre o campeão e seus rivais. Desta vez, não: os três revezaram-se na liderança e, até o finalzinho, todos estavam no páreo.
O Palmeiras, porém, foi o mais equilibrado e brilhante dos três. Que mais se pode desejar de um time de futebol?

Como nesta semana a seleção entrará em campo, invadindo este e os demais espaços das nossas vidas, aproveito para ir logo adiantando os melhores do Campeonato Paulista: Edinho; Cafu, Antônio Carlos, Henrique e Roberto Carlos; César Sampaio, Mazinho e Leonardo; Marcelinho, Evair e Viola. Técnico: Serginho Chulapa, claro, que tirou o Santos do fundo do poço para quase disputar o terceiro lugar. Reserva de ouro: Djalminha. Revelação: Edinho.

Por falar em seleção, a impressão que tive de Parreira, em Florianópolis, é a de que ele poderá rever sua posição diante de Branco. Antes, pretende dar um tempo para o rapaz, finalmente, entrar em forma. Senão, Leonardo será o titular. Nada mais ajuizado, pois Branco ganhou a posição exatamente por revelar a saúde de um centauro movido a cenoura, na imagem de Nelson Rodrigues.
Que sabe jogar, não resta dúvida. Mas lateral, já no tempo em que Zagalo corria atrás da bola, tinha de aliar técnica a velocidade e resistência. Se faltar um desses atributos, banco, é o que recomenda o bom senso.

Aliás, vou além, escalando minha seleção ideal, com os jogadores escolhidos por Parreira: Zetti; Jorginho, Ricardo Rocha, Mozer (se o joelho não engripar) e Leonardo; Mauro Silva, Cafu, Mazinho e Raí, com Viola na bica, caso o parisiense não der sinais de vida rapidamente; Bebeto e Romário, ambos espiando de fiança o garoto Ronaldo, na beira do campo, em permanente aquecimento.
Infelizmente, sei que esse time não entrará em campo. A não ser que tão desmentida crença de que Deus é brasileiro for, afinal, verdade.

Palmeiras e Santo André, bola rolando na telinha. Sílvio Luís, em conversa com Luxemburgo, sugere que o Palmeiras está jogando com meias brancas por sugestão de um bruxo de plantão, amigo do técnico, que confirma, esquivando-se numa risadinha delatora. O irreverente Mário Sérgio sopra a vela e chuta o mafuá: "É. Bota meia branca no Santo André, pra ver se ele vira campeão".

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