São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Aldeia do Oregon é exemplo de modernização

LINDA KANAMINE
DO "USA TODAY"

Se existe uma nova faceta dos povos indígenas dos EUA, ela pode ser vista nos íngremes cânions do Oregon central.
Serras transformam toras em pranchas, máquinas ruidosas produzem painéis de madeira para portas, turistas se divertem num balneário com fontes de água quente e uma barragem hidrelétrica funciona a pleno vapor.
Se existe uma nova onda econômica que cobre as terras dos índios, ela está especialmente presente nesta reserva, onde vivem 3.500 nativos.
"Estamos tentando oferecer oportunidades", diz o administrador da tribo, Charles Jackson.
A história desses milhares de índios é igual à de muitas tribos.
Há 140 anos, os povos Wasco e Warm Springs foram expulsos de seus locais de comércio, às margens do rio Columbia.
As tribos confederadas de Warm Springs mal conseguiam garantir sua sobrevivência.
Até 50 anos atrás, quando resolveram parar de esperar serem atendidos pelo governo –uma atitude que permanece forte até hoje.
Começaram vendendo as reservas de madeira ao leste do monte Hood.
Quando uma nova barragem inundou 40 mil quilômetros quadrados de tradicionais reservas de pesca e pontos de tradição cultural, as tribos processaram o governo federal, em 1957, e ganharam US$ 4 milhões.
Elas investiram o dinheiro num estudo sobre novos potenciais comerciais –e assim nasceu um conglomerado tribal.
Quando os membros das tribos começaram a trabalhar, o orçamento anual de Warm Springs subiu para US$ 25 milhões.
Tudo isso sem jogos de azar, pelo menos por enquanto. Metade da renda ainda é derivada da venda de madeira.
O restante (US$ 1 milhão) vem de lucros obtidos pelo "resort" turístico de Kah-Nee-Ta, com hotel, campos de golfe e piscinas.
Cerca de US$ 12 milhões, da venda de energia hidroelétrica. E US$ 360 mil, da vendas de roupas.
As tribos acabam de lançar um novo empreendimento, que transforma terra ou animais marítimos fossilizados em portas à prova de fogo –a primeira porta em 30 anos a ser aprovada num teste de 90 minutos de fogo.
Na Warm Springs Clothing (empresa de roupas), fios cor-de-laranja, azuis e roxos se transformam numa linha Warm Springs de camisetas, camisas e casacos.
Há planos para a construção de um novo shopping center em frente ao museu da tribo.
E a reserva, que já atrai 250 mil visitantes por ano a seus elegantes "resorts", não exclui a possibilidade de abrir um salão de jogos de azar também.
Os lucros vão para estradas, escolas, polícia e um salário mensal de US$ 100 por membro.
Pelo menos US$ 25 do cheque mensal de cada criança é destinado a um fundo para a educação.
Mas os líderes dizem que o progresso também tem tido consequências negativas.
"Para conseguirmos as economias, o meio ambiente teve que pagar um preço", diz o planejador tribal Louie Pitt Jr.
"Temos usado recursos da reserva como poupança, mas estamos tirando dela há 15 anos".
Nem o crescimento das pequenas empresas acabou com o problema da maioria das reservas: o desemprego, que atinge 40%.
Os índices de abandono escolar no segundo grau e de gravidez de adolescentes estão aumentando.
Cada funcionário de escritório tem um computador, mas suas mesas ficam em trailers apertados e casas de tijolo em mau estado.
E as casas pequenas, com pintura descascando, ostentam o indício de um déficit habitacional: três a cinco carros em frente a cada casa, indicando várias famílias.
Apesar disso, o clima é otimista. "Vivemos aqui há 40 mil anos e gostaríamos de continuar aqui para sempre", diz Charles "Jody" Calleca, diretor de recursos tribais.

Tradução de Clara Allain

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