São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Febre de cassinos ajuda as tribos a se recuperar

LINDA KANAMINE
DO "USA TODAY"

Gerry Lavine, aposentada de Phoenix, Arizona, está há quatro horas alimentando sua máquina predileta no Cassino Fort McDowell com moedas de 25 centavos. "Já ganhei US$ 900 aqui", diz.
São apenas 17h da terça-feira e dúzias de candidatos a ganhadores já rondam as máquinas, esperando uma vaga para jogar.
Em nenhum lugar a corrida pelo ouro dos cassinos é mais forte do que no Arizona, onde 16 das 21 tribos do Estado têm acordos com o governo estadual que lhes permitem operar cassinos.
Na verdade, os interesses em jogo são tão grandes que a indústria nacional, de US$ 4 bilhões, deu início a uma nova onda de Guerras dos Cassinos Índios.
Os cassinos concorrentes em Atlantic City e outros lugares afirmam que os índios americanos, que têm o direito de administrar cassinos em reservas autogovernadas, têm uma vantagem comercial injusta, por sofrerem poucas restrições dos governos estaduais.
Donald Trump, proprietário de cassino em Atlantic City, afirma: "A criminalidade organizada grassa na reserva índia".
Líderes índios negaram a acusação, em audiências no Congresso. O procurador-geral do Wisconsin, Jim Doyle, também as rejeita: "Não existem quaisquer indicações de crime organizado". "Mas", acrescenta, "precisamos nos manter muito atentos".
Os líderes tribais dizem que o dinheiro é necessário para pavimentar suas ruas, construir escolas, clínicas, creches e empresas onde sua maioria desempregada possa trabalhar.
Os yavapai de Fort McDowell, que têm 850 membros vivendo numa área de 9.700 hectares, já transformaram os lucros de seu cassino num novo centro de saúde.
Estão se preparando para inovar com um centro para idosos –uma parte de um conjunto maior, que deverá abranger também um centro comunitário, creche e departamento educacional.
"As perspectivas são muito boas para nós", disse a vice-presidente tribal Virginia Begay. A tribo distribui 34% dos lucros totais, que em 1993 chegaram a US$ 70 milhões, entre seus membros.
O último cheque trimestral recebido foi de US$ 9.000 por pessoa.
"É o maior instrumento de desenvolvimento econômico que as tribos já tiveram em mãos", diz Leonard Prescott, ex-presidente dos shakopee medwakanton sioux no Minnesota.
Este ano, cada membro registrado de sua tribo vai receber estimados US$ 500 mil –sua participação nos lucros de 1993 do Mystic Lake Casino (US$ 96,8 milhões).
A tribo implementou um projeto de saneamento de US$ 2,5 milhões e um conjunto habitacional de US$ 2 milhões, sem qualquer contribuição federal ou estadual.
Uma das tribos mais bem-sucedidas tem sido a dos mashantucket pequots, de Connecticut, que abriram o renomado cassino Foxwoods em 1992.
"Na mesma semana que Foxwoods foi aberto, a Electric Boat Co. demitiu 2.000 pessoas em Groton e nós contratamos 2.300", diz Mickey Brown, gerente do Foxwoods.
E os operadores do cassino se gabam das condições de trabalho.
"Não há comparação entre estes empregos e outros na indústria do turismo", diz Brown. "O pacote de benefícios deve ser o melhor do Estado".
A guerra dos cassinos começou em 1979, quando os seminoles, da Flórida, abriram o primeiro salão de bingo índio.
Outras tribos se juntaram a eles, provocando uma reação dos Estados, que argumentaram que só poderiam permitir cassinos.
Os índios venceram a briga maior em 1987, quando a Suprema Corte resolveu que as tribos, enquanto governos soberanos, não estão sujeitas às normas estaduais que regulamentam jogos de azar.
A questão está longe de resolvida. As tribos estão processando seis Estados que se negam a conceder autorizações para cassinos: Califórnia, Texas, Novo México, Flórida, Oklahoma e Alabama.
E o senador Daniel Inouye (democrata do Havaí) está introduzindo emendas à lei do jogo indígena, de 6 de junho, para estabelecer padrões mínimos de auditoria, licenciamento etc.
"As pessoas temem que consigamos influência política", diz Phillip Martin, chefe do bando de Mississipi de índios choctaw, que vão abrir um cassino de US$ 30 milhões em julho.
"Hoje em dia nós povos indígenas não trabalhamos apenas com artesanato e danças indígenas. Temos que ganhar a vida."
Sua maior ameaça talvez não seja Donald Trump, mas a concorrência.
A uma hora de carro na direção leste, os apaches de San Carlos preparam seu modesto Apache Gold Casino para ser aberto no final de maio.
"A estratégia é fornecer oportunidades para combater nossos males sociais: alcoolismo, desemprego, que está em 60%, gravidez de adolescentes, consumo de drogas relacionado com gangues", diz Harrison Talgo, presidente da tribo, que tem 11 mil membros.
"Não dá para ver a tribo num nível de depressão tão grande e não fazer nada".

Tradução de Clara Allain

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