São Paulo, domingo, 15 de maio de 1994
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Brutalidade sem qualquer poesia

SÉRGIO AUGUSTO

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Vinheta/Chapéu: \<FD:"VINHETA-CHAPÉU"\>CINEMA
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Brutalidade sem qualquer poesia
"Vício Frenético", o título brasileiro de "Bad Lieutenant", denuncia o mau tira do título original. A bem dizer, nenhum vício lhe parece estranho: dos que levam à piração aos que conduzem ao gozo. Os primeiros predominam. O "junkie" encarnado por Harvey Keitel consome tanta droga que pouco tempo lhe sobra para apostar em partidas de beisebol, transar com prostitutas e achacar mocinhas sem carteira de motorista.
Que achaque! Dá-se o flagrante num estacionamento de carros. Em vez de multar as desprevenidas moças, o tenente doidão pede para uma delas mostrar a bunda e para a outra simular uma felação. Enquanto elas cumprem suas tarefas, ele se masturba com a naturalidade de quem faz xixi no mato sem ninguém ver.
Em outra cena, ele entra numa igreja onde uma freira foi currada por dois delinquentes e, em meio a uma alucinação de tinturas buñuelescas, xinga Jesus Cristo de "puto".
Se cenas chocantes assim lhe agradam, Abel Ferrara pode ser um dos seus cineastas de cabeceira. Perto de brutalistas do quilate de Samuel Fuller, Sam Peckinpah e Quentin Tarantino, Ferrara não passa de um brutamontes que insiste em fazer dramas behavioristas entendendo muito pouco de psicologia. Seus filmes têm sempre sangue demais e poesia de menos.
Vício Frenético (Bad Lieutenant). EUA, 1993. Direção de Abel Ferrara. CineSesc: a partir das 15h30.

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