São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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A greve das universidades

OTAVIANO HELENE

As universidades estaduais paulistas entram em greve hoje, dia 16/05. A Unicamp e alguns campi da Unesp já estão em greve desde o dia 11, quarta-feira passada.
Essa greve, bem como a greve dos professores de 1º e 2º graus da rede pública, é uma resposta à política do governo estadual para o ensino.
O setor público paulista está sucateado: escolas e professores depauperados, universidades, salários, hospitais e unidades de saúde abandonados, segurança pública insuficiente, transporte coletivo caótico, programas habitacionais demagógicos e inexistência de programas agrários.
Se tal realidade fosse uma imposição de uma crise econômica mais ampla e profunda e que exigisse de toda a população um esforço, a resposta dos movimentos sociais seria outra.
Ao mesmo tempo em que vemos o sucateamento dos serviços públicos, vemos toda a potencialidade da economia paulista se manifestar de forma arrogante em outros setores: ótimas estradas estaduais, sistemas de telefone sofisticados, etc..
Esse contraste é fruto, de um lado, de uma política de arrecadação pública insuficiente e, de outro, de uma política de destinação dos parcos recursos públicos incompatíveis com as necessidades da população.
Os professores e funcionários das universidades estaduais estão recebendo o pior salário dos últimos 20 anos. O número de estudantes atendidos está praticamente estagnado em um patamar baixo. Os cursos de graduação e de pós-graduação e os laboratórios estão sucateados.
O piso salarial de um professor na rede pública é insuficiente para pagar meia dúzia de passagens de ônibus por dia; o sistema de ensino descarta metade de seus estudantes antes de completar o 1º grau. O ensino secundário paulista é pequeno quanto ao número de jovens atendidos e insuficiente no que diz respeito a este atendimento.
É contra esse cerco orçamentário e essa inversão das prioridades sociais que os professores e demais trabalhadores das universidades se rebelam. E essa rebeldia se caracteriza por uma campanha em defesa de nossos salários bem como da própria instituição universitária.
Dinheiro tem. Há recursos para reverter a curto prazo essa realidade orçamentária e salarial. Em um prazo mais longo, é possível reverter a situação adotando-se uma política de recursos públicos, quer quanto a sua arrecadação, quer quanto a sua destinação.
O movimento das universidades é em defesa do (que sobrou do) salário bem como (do que sobrou) de ensino público superior de qualidade em nosso Estado e contra a intransigência e a visão tecnocrática do governo estadual e dos reitores das universidades estaduais paulistas.

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