São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Cannes recebe estrela camaleônica

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

Cannes recebe estrela camaleônica
A atriz americana Jennifer Jason Leigh, intérprete de dois dos concorrentes de Cannes-94, confirmou seu interesse em participar de "Foolish Heart", o novo projeto de Hector Babenco ("Pixote"). Leigh foi a estrela dos primeiros dias do festival por seus desempenhos em "Na Roda da Fortuna" dos irmãos Coen e em "Mrs. Parker and The Vicious Circle" de Alan Rudolph.
Filha da hitchockiana Janet Leigh ("Psicose"), Jennifer optou já adolescente pela carreira cinematográfica. Amargou em papéis de coadjuvante até livrar-se do estigma com sucessos com "Noites Violentas no Brooklyn" (1990) e sobretudo "Mulher Solteira Procura" (1992), onde faz uma psicopata camaleônica.
Recentemente, Jennifer Jason Leigh arrancou efusivos elogios de Robert Altman, que a dirigiu em "Short Cuts - Cenas da Vida". Altman é o produtor de "Mrs. Parker", dirigido por seu ex-assistente Rudolph.
Jennifer Jason Leigh falou à Folha num encontro com um restrito grupo de jornalistas internacionais em Cannes.
Toda de preto e fumando ininterruptamente, Leigh comparou os estilos de Altman, Rudolph e Coen, destacou a pesquisa por trás de "Mrs. Parker" e entusiasmou-se ao falar do papel no filme de Babenco. Leia abaixo uma síntese da entrevista.

Folha - Você pode comparar um pouco os estilos de direção de Robert Altman, Alan Rudolph e dos irmãos Coen?
Jennifer Jason Leigh - Claro. Altman e Rudolph são muito parecidos. São excelentes diretores de atores. Nos dão muita liberdade, estimulam a improvisação.
Já os Coen são muito metódicos. Tudo é muito estilizado. Fazem algumas marcas de movimento mas nos dão certa liberdade. Quando você vê o resultado, tudo parece previsto!
Sempre adorei o trabalho deles. Estava sempre na primeira sessão do primeiro dia de lançamento de seus filmes.
Cheguei a fazer um teste para um papel em "Ajuste Final". Trabalhar em "Na Roda da Fortuna" foi como realizar um sonho.
Folha - Como foi a preparação para "Mrs. Parker"?
Jennifer - Em primeiro lugar, Rudolph fez uma imensa pesquisa. Ele sabia tudo sobre ela. Eu procurei ler ou reler toda a sua obra e várias biografias.
Conversei com conhecidos e contemporâneos dela. Para acertar a voz, usei dois dos únicos registros que ficaram. Uma fita em que ela lê poemas e uma entrevista.
Ouvia-os sem parar, como música, antes de dormir, ao acordar, até pegar o tom certo.
Dorothy Parker é vista como um dragão mas foi a mais gentil das pessoas. Ela era muito sentimental e teve uma vida amorosa muito triste.
Ela trabalhava muito duro, era muito crítica e queria ser levada a sério como escritora.
Folha - Algum conhecido de Dorothy Parker comentou com você seu desempenho?
Jennifer - Ainda não. O filme acabou de ficar pronto. Ninguém viu. Estou ansiosa.
Folha - Quais as chances de você atuar em "Foolish Heart", o próximo filme de Hector Babenco?
Jennifer - Espero fazer o filme. Adorei o roteiro. Meu papel seria o de uma mulher esquizofrênica que se apaixona por um jovem logo depois de Segunda Guerra Mundial.
Ele é judeu. Ela não, e sente um tremenda culpa por não ser judia. Eles acabam fazendo um pacto de suicídio.
Adoraria mesmo fazê-lo, mas há ainda problemas de compatibilização de agenda. Não sei ainda quando ele (Babenco) vai rodá-lo e espero muito poder acertar as datas.

O crítico AMIR LABAKI está em Cannes a convite da organizaçào do festival

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