São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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O 9º Encontro do PT

FLORESTAN FERNANDES

O PT realizou em Brasília seu 9º Encontro Nacional. O auditório Petrônio Portella e o plenário da Câmara dos Deputados acolheram os representantes dos diretórios regionais, os membros da Comissão Executiva Nacional, do diretório nacional, da bancada federal, de entidades sindicais e organizações civis, numeroso grupo de delegações estrangeiras etc.
Aos partidos da ordem e conservadores, que se intitulam "democráticos", ofereceu uma demonstração de democracia participativa.
O programa de governo, elaborado por uma comissão dirigida pelo professor Marco Aurélio Garcia, foi submetido a um amplo escrutínio, embora várias emendas tenham sido negociadas e revistas previamente. A profundidade do exame, discussão e reformulação do programa dependia da importância intrínseca das emendas restantes e do seu significado político para as diversas correntes do PT.
Os meios de comunicação de massa, especialmente a imprensa, haviam alardeado previsões catastróficas. As diversas correntes iriam digladiar-se, fazer de Lula refém das idéias e posições destas ou daquelas ou vice-versa; ele teria de recorrer ao veto como "El Supremo". Nada disso aconteceu.
As reuniões desenrolaram-se em clima de calor político normal e os ajustamentos nasceram das evidências contundentes. Lula não saiu ensanguentado nem sangrou ninguém... As correntes partidárias, expressão da democracia interna e pela base, não exerceram experiências prévias de conciliações pelo alto ou de guerra civil.
As posições podem não ter suprimido suas diferenças, com frequência arraigadas teórica e praticamente, mas apontaram "o que fazer" na luta pelo poder.
Ninguém ignorou que o PT não pode ganhar as eleições sozinho. O programa devia lastrear entendimento entre os petistas e ser inteligível e assimilável pelos partidos de centro-esquerda e de esquerda aliados, os quais também dispõem de programas próprios e jamais poderiam agregar-se ao PT se o que estivesse em questão fosse o melhor jeito de incendiar o país pela via eleitoral!...
O 9º encontro avançou resolutamente pelo interior das "reformas" e "revoluções" dentro da ordem, que poderiam estar implantadas pelas forças econômicas, socioculturais e políticas capitalistas, se elas se voltassem para o povo e contivessem um projeto político nacional.
Empenhadas em monopolizar a riqueza, o prestígio social, a cultura e o poder especificamente político, elas se apegaram ao refrão: "Mateus, primeiro os teus". O resultado está aí, objetivado em uma crise histórica crônica e em uma revolução burguesa interrompida em seus primórdios mais brutais, espoliadores e destrutivos.
Apesar de intenso deslocamento para o centro, o PT reafirmou sua identidade operária e socialista. Mantém-se fiel à luta de classes, à auto-emancipação coletiva dos de baixo e ao socialismo (reformista e revolucionário). Abriu, assim, maior espaço histórico aos partidos de centro-esquerda e de esquerda, fortalecendo o movimento social que tenta "alterar o presente estado de coisas".

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