São Paulo, sábado, 21 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cacá Diegues filma `Carmen" carioca

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cacá Diegues filma "Carmen" carioca
Filme: Pisada de Elefante
Direção: Cacá Diegues
Roteiro: Euclydes Marinho
Música: Jorge Ben Jor
Elenco: Leon Goes, Carla Alexandra, Jaqueline Laurence, Alexandre Lippiani

Este foi o único episódio de "Veja Esta Canção", de Cacá Diegues, que teve seu roteiro encomendado deliberadamente pelo diretor a um roteirista.
Diegues pediu uma adaptação para o Rio de hoje do enredo da ópera "Carmen" (Georges Bizet, 1874), baseado por sua vez na novela homônima de Prosper Mérimée (1803-70), e Euclydes Marinho cumpriu à risca a missão.
A "tabacalera" andaluza Carmen virou a dançarina de boate Lili (Carla Alexandra), e don José, o oficial que enlouquece por ela, virou o policial rodoviário Zé Maria (Leon Goes).
O terceiro vértice do triângulo amoroso, em vez de um toureiro famoso, é um craque do Flamengo (Alexandre Lippiani) prestes a ir jogar na Europa.
Trocada a arena de touros pelo estádio de futebol, a essência da tragédia permanece mais ou menos a mesma: Zé Maria, policial "caxias" e bom marido, larga emprego e família por Lili, que em seguida troca-o pelo craque rubro-negro.
O desfecho se dá em uma rampa de acesso às arquibancadas do Maracanã.
A música do episódio deveria ser "Princesa", do último disco de Jorge Ben Jor, mas, ao ver o filme pronto, o compositor pediu para fazer uma nova canção.
"Pisada de Elefante" ficou pronta em um dia e foi incorporada ao episódio. É a música que Lili dança na boate, e sua letra diz, entre outras coisas: "Jararaca vaidosa, maliciosa, perigosa".
Essa é a idéia: diferentemente dos outros três curtas da série, "Pisada" não trata do amor romântico, mas da paixão quase puramente carnal que, como queria Bizet, "é um pássaro rebelde".
Talvez falte esse toque de loucura e paixão à forma como Diegues filmou essa tragédia paradigmática. Há na narrativa, em troca, uma curiosa mistura de realismo e artificialismo.
Realismo, por exemplo, nas cenas domésticas de Zé Maria, em suas conversas com seu parceiro de trabalho, nos espetáculos na boate, no jogo de futebol.
Artificialismo, sobretudo, na cena final, em que Zé Maria e Lili se defrontam nos "bastidores" desérticos e irreais do Maracanã.
O ponto alto do episódio é a atriz Carla Alexandra, tão linda e sedutora que o espectador acha compreensível que o policial mais virtuoso do mundo (a ponto de rejeitar suborno) perca a cabeça por ela e se torne um criminoso.

Texto Anterior: Simão barrado no detector de beócios!
Próximo Texto: HELENA MEIRELLES SE APRESENTA NO CENTRO CULTURAL
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.