São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Quatro bancos dominam compra e venda de empresas

MARISTELA MAFEI
DA REPORTAGEM LOCAL

Comprar e vender empresas no Brasil está se tornando, aos poucos, negócio restrito aos chamados bancos de investimentos.
Antes eles assessoravam as empresas e, muitas vezes, tornavam-se acionistas minoritários.
Agora, formam fundos de investidores e determinam o ritmo das aquisições.
Os quatro bancos mais atuantes, Icatu, Garantia, Pactual e Morgan, foram apelidados no mercado de "IGP-M" dos negócios.
Trata-se de uma alusão ao índice da Fundação Getúlio Vargas que, por indicar a inflação, acaba sinalizando as regras da atividade econômica.
Juntos, os bancos do "IGP-M" participaram de negócios que movimentaram cifra próxima dos US$ 10 bilhões no ano passado.
A atuação desses bancos está mudando o comportamento do mercado de fusões e aquisições de empresas no país.
Até o ano passado, havia muita empresa à venda, principalmente no setor de alimentos, para poucos compradores. O mercado era "vendedor".
Agora, os nomes tradicionalmente agressivos –como a Gessy Lever, a Nestlé, a Refinações de Milho Brasil e a Parmalat– contam com a concorrência do "IGP-M". Por isso, o mercado tornando-se "comprador".
Daqui por diante, as empresas que quiserem crescer através de aquisicões tendem a se unir a estes bancos.
É assim que o grupo Bunge Brasil, dono da Sanbra, se uniu recentemente ao J.P.Morgan para disputar a compra da Perdigão.
Em anos anteriores, o grupo realizou aquisições sozinho, como foi o caso da compra da Petybon e da própria Sanbra.
Agilidade
Daniel Dantas, do Banco Icatu, que lidera a formação de um fundo de investimentos, o Icatu Asset Management, exemplifica: "Mobilizamos grandes somas de recursos de nossos investidores no mesmo dia em que aparece um bom negócio, com uma agilidade que muitas vezes uma grande empresa não tem".
Luis César Fernandes, do Pactual, que já opera um fundo de investimento, observa que seu banco "não tem que esperar o aval da matriz" para fazer uma aquisição, como é o caso das multinacionais.
Ainda assim ele acha que continuará existindo espaço para a compra realizada isoladamente por uma grande empresa. "Quando uma múlti quer comprar uma marca, o faz dentro de uma estratégia internacional de conquistar mercado; nesse caso, não há banco que consiga concorrer", avalia.
Fernandes acha que os bancos de investimentos acabarão se especializando na compra e controle de empresas com problemas sucessórios e/ou que necessitam passar por reestruturação.
Claudio Haddad, diretor-superintendente do Banco Garantia, avalia que o mercado brasileiro "está extremamento propício a operações entre empresas".
Na mira
Os dois negócios cujos desfechos estão por ser conhecidos ainda neste mês– a venda da Perdigão e da rede de supermercados Unimar– passa direta ou indiretamente pelas mãos do "IGP–M".
O Icatu e o Pactual querem o controle da Unimar. O Pactual disputa com o Morgan a Perdigão.
O GPI, fundo de investimentos do Garantia, desistiu da Unimar, mas o Banco Garantia permanece como intermediador oficial da venda da Perdigão –de quem já recebeu 3% das ações.
A última empresa de porte colocada à venda, a Artex, fabricante de roupa de cama, mesa e banho, foi parar sob o controle e administração do Garantia –cujos sócios controlam ainda a Brahma e as Lojas Americanas.
Os sócios do Banco Garantia coordenam, no momento, outras duas grandes negociações.
Através de uma associação com as Lojas Americanas, eles preparam-se para implantar a rede de lojas de departamentos norte-americana Wal-Mart no Brasil.
Participam, ainda, de negociacões para a compra da rede de fast-food Bob's e das farmácias Drogasil.

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