São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Destino deixa Mozer fora de três Copas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há jogadores que parecem mesmo predestinados. Esse Mozer é um exemplo acabado: pelo futebol que revelou desde quando estreou garoto ainda no Flamengo, era para ter sido titular absoluto da zaga da seleção desde a Copa de 86.
Com um porte físico invejável, dono de rara velocidade num zagueiro, e extrema habilidade com a bola nos pés, foi um dos primeiros beques brasileiros a quebrar um velho tabu e puxar a fieira de zagueiros que a Europa acabou importando daqui nos últimos anos.
O destino, porém, quis que Mozer ficasse de fora de três Copas: 86 e 90, por causa do joelho, e agora, em razão de um problema bioquímico.
Na verdade, confesso que esperava seu corte, mas pelos motivos anteriores. Entreli na expressão do rosto do médico Lídio Toledo, já no aeroporto de Florianópolis, antes do amistoso contra a Islândia, esse desfecho, quando lhe perguntei se Mozer voltara a ter problemas com o joelho já baleado, o direito, e se valia a pena correr o risco de levar para a Copa um jogador com seu histórico clínico.
Às vezes, o destino escolhe atalhos insuspeitos para nos levar ao ponto certo. Mas cabe a nós escolhermos o companheiro adequado para a viagem. E Parreira, mais uma vez, escolheu o parceiro errado: Aldair, também recém-recuperado de grave lesão, e que no jogo contra a frágil Islândia conseguiu irradiar pânico aos mais desatentos espectadores.
Aliás, por que Mozer ou mesmo Aldair, que, mesmo nesta era Parreira, pouco ou quase nada fizeram na seleção? E não o decidido Ronaldão, bicampeão mundial pelo São Paulo (no jogo contra o Milan, simplesmente foi o maior jogador em campo) e que se saiu muito bem em todas as vezes que vestiu a camisa titular da seleção? Esse, sim, seria um zagueirão talhado para decisões como são todos os jogos de uma Copa do Mundo.

Há mais de 20 anos, escrevi alguns artigos sobre a questão da nutrição específica dos jogadores de futebol, inspirado numa reportagem da revista `Esquire', que listava receitas dietéticas para tudo quanto era esporte, menos para o nosso velho jogo da bola, que eles lá chamam de soccer.
Duas décadas passadas, vejo com tristeza a nossa nutricionista ainda lutando contra preconceitos e tabus encruados na seleção brasileira. É de chorar.

Se Parreira não captou a mensagem de Capello, expressa claramente no massacre do Milan sobre o Barcelona, na decisao da Copa Européia, que dizer do técnico Arrigo Sacchi, da Azzurra, que vai ao Mundial com um contigente de combatentes de meio-campo e nem um pingo de talento?
Giannini, o príncipe, que outro dia vi em ação, via parabólica, na Argentina, marcando e armando sua Roma com extrema perícia, nem mesmo foi chamado. Assim como Lombardo, o carequinha da Samp, que vai e vem com profícua eficiência. Esses dois, mais Donadoni, um mestre que provou no jogo contra o Barcelona estar em plena forma, tendo Berti como suporte e Baggio e Signori lá na frente, formariam um time de arrasar, sem se expor suicidamente.
Em nome do futebol, lavro meu veemente e itálico protesto.

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