São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Itamar diz que está pronto para ser popular

CARLOS CALADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele se diz pronto para assumir o papel de compositor popular. Após cinco anos sem gravar, Itamar Assunção completa com mais dois discos a prometida trilogia "Bicho de Sete Cabeças".
Lançado em dezembro último (pelo selo alternativo Baratos Afins), o primeiro volume desse trio de LPs ganhou o prêmio Sharp de "melhor disco pop-rock".
"Não gravo um disco por ano, mas tenho uma produção intensa. Sou um compositor constante", diz o músico paulista, explicando a aparente explosão produtiva.
Afinal, até o ano passado, Itamar contava com apenas quatro títulos em sua discografia – desde a estréia com o independente "Beleléu", em 1980.
Depois vieram "Às Próprias Custas" (1983), "Sampa Midnight" (1986) e "Intercontinental" (o primeiro por uma grande gravadora, a Continental, em 88).
Mesmo a contragosto, Itamar não teve outra saída: foi obrigado a encarar a produção alternativa mais uma vez.
A gravação dos três discos só aconteceu graças à ajuda de amigos do estúdio Mahália, onde Itamar e a banda Orquídea do Brasil passaram cerca de três meses, tocando e gravando.
Estilo encontrado
"Acho que finalmente encontrei o meu estilo como compositor popular", diz Itamar, animado com a tripla volta às lojas. O que não significa que as coisas já estejam mais fáceis do que antes.
Para o show de lançamento de "Bicho de Sete Cabeças" em São Paulo, Itamar já tem até datas reservadas, em junho e julho, no Teatro Sérgio Cardoso, só não achou ainda quem banque a produção.
"Apesar de ter público em todo o Brasil, até hoje não tenho um patrocinador, nem uma gravadora", diz sem saber se os shows vão mesmo acontecer.
"Tenho 15 profissionais comigo nesse projeto. Sem um patrocínio as coisas ficam muito mais difíceis", reclama.
Outro problema: até agora nenhum dos álbuns de Itamar saiu em CD -um entrave considerável para qualquer músico que queira ampliar seu público hoje, em plena era do CD.
Negociações
Claro que Itamar também se preocupa com isso. Diz que está negociando, com os selos Velas e Eldorado, não só o lançamento da trilogia mas também dos seus primeiros álbuns em CD.
Outro item dessas arrastadas negociações é a gravação de um álbum só com composições do sambista Ataulfo Alves, que Itamar tem apresentado em shows.
Se mais uma vez essas conversas derem em nada, Itamar diz que acabará fazendo seus CDs na alternativa Baratos Afins, sem o poder de fogo da distribuição por uma gravadora maior.
É por essas e outras que o autor da clássica "Negro Dito" quer romper de vez com a fama de "maldito" ou "vanguarda paulista", que muitas vezes o impede de atingir um público maior.
"Eu sou popular. A minha música é urbana, está muito ligada a São Paulo, mas eu não sou nenhuma vanguarda erudita. Eu gosto mesmo é de batucar caixa de fósforo", diz.
Porém, enquanto a situação não se altera, Itamar não pára de produzir. Além das composições próprias, volta e meia retoma as parcerias com Alice Ruiz, Paulo Leminski e Ná Ozzetti. A próxima, avisa, será com Marina Lima.
"Minha música tem todas as possibilidades de ser distribuída na Europa e até nos EUA, mas isso não é comigo. Meu negócio é criar. Eu sei que estou pronto."

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