São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 1994
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Exército nas ruas; Jogadores privilegiados; Plano irreal; Leite e fisiologismo; Racismo e sexismo; Teatro caro; Mandato mais curto; Telhado de vidro; Senna patriota; Vendaval em Ribeirão

Exército nas ruas
"O sr. presidente da República, justificando a ocupação pelo Exército das dependências da Polícia Federal, afirmou que agiu no absoluto cumprimento da lei e visando garantir a ordem, a preservação de patrimônio público e os direitos do povo. Por quais motivos o presidente não implanta a isonomia salarial entre os servidores federais como determina a Constituição? Por qual motivo o presidente não garante ao povo seguridade social digna, conforme reza a lei? Por qual motivo o Exército não ocupa nossas fronteiras, conforme prevê a lei? Sr. presidente da República, sabia que há uma lei acerca da reforma agrária no Brasil? Por qual motivo não a aplica? Sr. presidente, o Brasil não precisa de Exército fazendo sua `mise-en-scène'; precisamos é de um presidente que governe –à luz dos instrumentos legais– este país composto de cerca de 30 milhões de famintos."
Luiz Antonio Nascimento de Souza (Manaus, AM)

Jogadores privilegiados
"É impressionante a cobertura dada pela mídia aos nossos jogadores da Copa e a tudo que a eles se relaciona, nos mínimos detalhes. Parece que os destinos desta nação dependem do desempenho de seus divinos pés. Mas é ultrajante à maioria da população carente, desprovida de atendimento médico, que tenhamos que assistir na TV aos exames sofisticados a que eles foram submetidos no Hospital da Aeronáutica, estando todos eles vendendo saúde enquanto a maioria da população realmente doente morre nas filas ou é porcamente atendida no chão dos corredores dos hospitais. Somos uma democracia? Abram à população os hospitais das Forças Armadas, e possivelmente dêem a todos atendimento médico igual ao dos funcionários do Banco do Brasil, Petrobrás etc."
Antonio L.C. Muffone (Curitiba, PR)

Plano irreal
"Plano `Real'! Que ironia. Nada mais fictício. Até quando vamos querer resolver problemas no campo real (outra acepção) da economia valendo-nos apenas de medidas nominais?"
Hilmar Ilton Santana Ferreira (Itabuna, BA)

Leite e fisiologismo
"Lendo matéria da Folha de 20/05 em que Sarney diz que quem reativar o programa de distribuição gratuita de leite e der continuidade à ferrovia Norte-Sul leva seu apoio, e na Folha de 21/05 a matéria de capa `FHC fecha acordo com Sarney', lamentavelmente chego à seguinte conclusão: estamos fadados a ser eternamente um país de Terceiro Mundo, se a população continuar acreditando nesse tipo de político, em que predominam o fisiologismo e a ambição pelo poder. Eles são capazes de tudo, inclusive vender a própria mãe, para ser eleitos. Não é dando leite gratuito à população que vamos gerar mais empregos, mais divisas ao nosso país."
Rui Molina (São Paulo, SP)

Racismo e sexismo
"Causou-nos surpresa o cartaz de chamada para a `Festa do Bicho - FAU 94', prevista para acontecer no dia 13 de maio, sexta-feira. Projeto gráfico assinado por Cabelo, Alemão e Nêgo. O cartaz traz uma foto de Jean-Paul Goude, publicada em uma revista internacional de fotografia, onde podemos ver uma mulher negra, de perfil, nua. Ela traz nas mãos uma garrafa de champanhe -cuja espuma contorna sua cabeça caindo em uma taça apoiada sobre suas nádegas. As pernas fletidas dão a impressão de serem uma só. Esta imagem nos suscitou algumas reflexões: 1. Qual o uso da comunicação como instrumento de disseminação de ideologia? 2. O que passava na cabeça do trio que assina o projeto gráfico ao escolher esta foto e justamente para o 13 de maio? 3. Por que foto e data aludem à `festa do bicho'? 4. Pensou-se sobre as mensagens evocadas por esta imagem? Ao analisar a foto é inevitável a associação da mulher negra como símbolo sexual fácil: nua com as nádegas expostas e postas como uma mesa, para servir. A garrafa fálica, que ela segura, ejacula um líquido branco, espumante para dentro do receptáculo (símbolo genital feminino) sobre `a mesa' -para quem quiser se servir. A evocação do Saci-Pererê é direta, associando a imagem da mulher negra ao traquinas, ao amoral, ao sacana... Partindo dessa análise questionamos o papel da comunicação ao lidar, ou mesmo perpetuar, discriminações raciais e sexistas. Preocupamo-nos com candidatos a profissionais de formação superior -supostamente formadores de opinião e, portanto, disseminadores de comportamentos e atitudes sociais. Por fim, nos causa estranheza que em uma época de questionamentos dos preconceitos, ortodoxias e intolerâncias, ainda exista gente tão inconsequente!"
Maria Lúcia da Silva e Maria de Lourdes Araújo Almudi Silvia de Souza (São Paulo, SP)

Teatro caro
"O 4º Festival Internacional de Artes Cênicas, com seus ingressos elitizados, fez com que os profissionais da arte brasileira perdessem a oportunidade de universalizarem seus conhecimentos com o que há de melhor no mundo da arte. Pena! Quem pôde ver os espetáculos do festival não poderá ver nos palcos do Brasil o reflexo que esse intercâmbio cultural traria na formação dos nossos profissionais."
Marilu André e Elisa Nunez (São Paulo, SP)

Mandato mais curto
"Vários e recentes episódios envolvendo os deputados eleitos em outubro de 1990 por cerca de 80 milhões de contribuintes brasileiros, tais como a roubalheira dos `Sete Anões do Orçamento', o aumento dos próprios salários etc., mostram que é muito grande o distanciamento entre o modo de pensar e agir de tais políticos e o dos eleitores. Com mandatos de um ano (nos Estados Unidos, por exemplo, o mandato é de dois anos), forçosamente os nossos deputados federais estariam mais sintonizados com o que eles chamam, eventualmente de forma hipócrita, de `anseios da população'."
Fernando Salinas Lacorte (Rio de Janeiro, RJ)

Telhado de vidro
"Lendo a respeito da acusação que Brizola faz na Folha de 19/05 a FHC e Lula, devo dizer que é só vir ao Rio de Janeiro para ver a situação em que se encontra o Estado e principalmente a cidade do Rio, e constatar quem é o virtual despreparado, impostor e mal intencionado existente no país."
José Roberto Devecchio (Rio de Janeiro, RJ)

Senna patriota
"Não sou adepto da Fórmula 1 por uma razão muito simples: não entendo uma competição esportiva, seja ela coletiva ou individual, onde a figura mais importante, que é o atleta, desaparece dando lugar à máquina. Vejo ainda esta categoria esportiva demasiadamente dirigida para interesses puramente materiais. Mas Ayrton Senna estava acima de tudo isso. Não só por sua alta qualidade técnica, mas sobretudo por suas características como ser humano. Sua brasilidade comovia. Sempre surgia em suas mãos nosso símbolo verde e amarelo, nos lugares mais longínquos por onde andava."
Alfredo Frajdenberg (Rio de Janeiro, RJ)

Vendaval em Ribeirão
"O vendaval que destruiu boa parte de Ribeirão Preto na noite de sábado, dia 14, mostrou não só a solidariedade das pessoas, mas também a qualidade e eficácia da empresa pública. Em pouco mais de 48 horas, 400 trabalhadores, recrutados rapidamente na região, consertaram cerca de 70% de toda rede elétrica de Ribeirão, que ficou fortemente danificada pelo vendaval. O sindicato dos eletricitários de Campinas solidariza-se com toda a população de Ribeirão e cumprimenta os trabalhadores da CPFL pela dedicação e competência nesta hora tão difícil para a cidade. Ao mesmo tempo, queremos registrar que é exatamente esta qualidade, erguida com os impostos dos cidadãos, que temos lutado para garantir e ampliar. A energia elétrica é um bem social."
José Mauro Forti, presidente do Sindicato dos Eletricitários de Campinas (Campinas, SP)

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