São Paulo, sexta-feira, 27 de maio de 1994
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Jazz perde imaginação harmônica de Pass

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Com a morte do guitarrista norte-americano Joe Pass na segunda-feira, o jazz clássico dos anos 40 e 50 perdeu um dos últimos remanescentes célebres ainda em atividade.
Pass, 65, trabalhou como sempre em clubes noturnos pelo país, embora desde 1992 enfrentasse o câncer de fígado que o matou.
Ele só virou estrela quando já era músico maduro, depois de dois episódios que transformaram sua vida.
O primeiro, sua internação na clínica de recuperação de drogados da Fundação Synanon, em Santa Mônica, Califórnia, pôs fim a 12 anos de infindáveis problemas legais, médicos e de personalidade.
O segundo, o encontro com o maior produtor do jazz contemporâneo, Norman Granz, o colocou em contato com os monstros sagrados da música e na linha de frente do mundo artístico.
Até 1970, Pass era um músico de estúdio quase anônimo, participando em formações de acompanhantes de dezenas de artistas.
Depois, na gravadora Pablo, de Granz, gravou cerca de 20 discos individuais e 50 em dueto, trio ou em conjunto com outros músicos de porte.
O estilo de Pass, que tocava com os dedos, sem palheta ("decidi sacrificar a velocidade para poder fazer música"), se marcava em especial pela grande imaginação harmônica nas baladas românticas, embora seu ritmo nos tempos rápidos também fosse apreciado pelo público.
"Eu acho que tocar violão foi um presente de Deus. Não consigo me lembrar como isso começou", dizia Joe, que nasceu Joseph Anthony Passalaqua, de família pobre de imigrantes, em New Bruswick, Nova Jersey, costa leste dos EUA.
A atração pelo violão começou aos 9 anos. Quando tinha 16, largou escola e família e foi para Nova York tentar a vida. Conseguiu emprego em bons grupos que se apresentavam em clubes noturnos.
Depois do seu encontro com Granz, gravou discos que lhe renderam vários prêmios, prestígio e dinheiro.
Entre eles, a série solo "Virtuoso" (iniciada em 1973), "The Trio" (com Oscar Peterson e Niels Pedersen, que ganhou o Grammy em 1974), três duetos com Ella Fitzgerald, outros tantos com Sarah Vaughan.
Com Ella, Pass também fez o "songbook" de Antonio Carlos Jobim, em 1980. Ele gostava de música brasileira, embora não tenha se especializado nela como seu colega Charles Byrd.
Outros grandes sucessos em disco foram: "Portraits of Duke Ellington" (1974), "We Will Be Together Again" (1985) e "Summer Nights" (1989).
Entre as recriações mais famosas que fez estão as de "Stella by Starlight" (de Ned Washington e Victor Young, 1946), "Cherokee" (de Ray Noble, 1938) e "Speak Low" (de Ogden Nash e Kurt Weill, 1943).
Apesar de tanto êxito nos discos, Joe Pass dizia preferir o trabalho ao vivo ao de estúdio. O grande prazer de sua vida permaneceu sendo tocar em clubes noturnos, como fez no início da carreira.
Joe Pass era casado com Ellen Pass e teve dois filhos: Nina e Joe Jr.

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