São Paulo, sábado, 28 de maio de 1994
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A bênção

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

"Os moradores das favelas não tiveram dúvidas, ao comentar a operação militar", anunciou o Jornal Nacional.
"Foi uma bênção, o pessoal do Exército aqui dentro", comentou então "Vera Rodrigues, doméstica".
Delfim Netto perde, com seu slogan de campanha, "eu era feliz e não sabia", falando da ditadura. A cobertura do Jornal Nacional para a invasão das duas favelas cariocas por centenas de soldados –que posaram de arma em punho para a Globo, mas não fizeram coisa alguma, além do desfile de uniformes– foi em tudo saudosa.
O tempo inteiro, nada de classificar de treinamento a "operação militar". Pelo contrário, a intenção de afirmar que o Exército estava ali em ação real ficou clara, quando a cobertura perguntou com ironia: "Treinamento? Teste?" Realmente, não era o que parecia –e sim uma forma de pressionar pela intervenção.
Uma ação integrada, por assim dizer, em que o Jornal Nacional busca atuar como uma unidade de apoio, na comunicação. Como na manchete, afirmativa: "Soldados do Exército sobem os morros." É o que muitos querem. Talvez seja mesmo a solução para a violência. Mas os tempos são outros e as coisas não são mais feitas assim.
Forró
Fernando Henrique, querendo ser popular, errou feio ao "desfilar a cavalo" com um chapéu de peão nordestino. Lembrou Michael Dukakis, o presidenciável americano que posou num tanque querendo aparentar força e acabou aparentando fraqueza e pequenez.
O tucano pediu para ser ironizado, o que fez Márcia Peltier, rindo, no Jornal da Manchete: "Forró ele não dançou."
Foi a mesma gozação, por todo lado, menos no Jornal Nacional. FHC pode fazer o que quiser que a Globo perdoa. Ontem, chegaram a dar uma desculpa para o ridículo do tucano. Sobre a imagem, um texto explicou que o chapéu era "homenagem de um vaqueiro".
Invisível
Fernando Henrique, Quércia, Amin, até Lula, todos eles têm a imagem garantida na cobertura da agenda dos políticos, diariamente no Jornal Nacional. Todos, menos Brizola. Falam dele, registram o que tiver acontecido no dia –mas imagem que é bom não dão.

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