São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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BC vai enfrentar armadilha no câmbio

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central (BC) ainda não tirou todas as pedras do caminho da transição no mercado financeiro. Uma delas é a taxa do câmbio comercial no exato momento da transição para o real.
"Não está definida a regra da virada de junho para julho. Existe ali um problema no câmbio", diz Tereza Fernandes, da consultoria MBA (Mendonça de Barros & Associados).
O problema pode gerar um lucro de US$ 112 milhões para os bancos –se o movimento de compra for de US$ 7 bilhões.
Basta que os bancos comprem dólares no câmbio comercial (exportações e importações) no dia 29 de junho e vendam no dia 30.
O lucro astronômico surge de dois fatos: 1) os negócios com dólar comercial são liquidados financeiramente (pagos) dois dias depois em reservas (dinheiro); 2) de junho para julho, a queda da inflação vai trazer as taxas de juros (no over) de 55% para, estima o mercado, 9%.
O dólar vai render de 29 para 30 de junho a variação da URV (Unidade Real de Valor), estimada em 1,9%. O custo para comprar dólares será dado pelo over do dia 1º, estimado em 0,3% ao dia ou 9% ao mês. A diferença (entre 1,9% e 0,3%) é o lucro da operação.
Além do lucro dos bancos contra o BC, a arbitragem pode ocasionar problemas para a economia como um todo.
A dois dias da nova moeda, o dólar pode experimentar oscilações bruscas ao longo do dia –privilegiando ora o exportador (dólar valorizado), ora o importador (dólar desvalorizado).
"O BC tem que adotar alguma medida", diz Celso Scaramuzza, diretor da área financeira do Unibanco. "Ele vai limitar a posição comprada (quanto os bancos podem comprar de dólares)", arrisca Pedro Bodin, ex-diretor do BC e atualmente no Banco Icatu.
Qualquer que seja a medida, o BC ainda não a tomou.
Título público
"Ele tem que dizer. Já está difícil vender ao mercado os BBCs (Bônus do Banco Central)", afirma Tereza.
Os BBCs são títulos prefixados. Os prefixados (juros embutem uma expectativa de inflação) foram expulsos pelo próprio BC do mapa da transição quando o prazo dos CDBs pré foi ampliado de 30 para 90 dias.
"Vai ter que ser algum título indexado à TR (Taxa Referencial)", afirma Scaramuzza. Mas o mercado quer que este título, como o CDB em TR, tenha prazo de 30 dias.
"O BC ainda tem que liberar as operações de empréstimo em TR também para 30 dias" (os empréstimos ainda são de 90 dias).
A medida seria adotada para evitar o descasamento –os bancos vão captar dinheiro em TR e não desejam emprestar com juros prefixados (não há parâmetro confiável para fixar a taxa).
"Falta definir também como serão as regras de conversão dos mercados futuros, como dólar e DI", lembra Francisco Lafayette, administrador de fundos do Banorte.
(JCO)

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