São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Equipe faz pesquisa criminalística de ponta

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL A PIRACICABA

A equipe que estuda as ossadas dos inconfidentes é pioneira, em todo o mundo, em técnicas de reconstrução facial de ossadas.
Baseada na Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), agregada ao corpo da Universidade de Campinas (Unicamp), a equipe é comandada pelo médico legista Nelson Massini e pelo cirurgião dentista legal Eduardo Daruge.
Nelson Massini notabilizou-se por ter participado na elucidação dos mais intrincados casos da criminalística brasileira. Além do caso Josef Mengele, trabalhou no chamado "crime da rua Cuba" (a morte do casal Bouchabki, em São Paulo, em dezembro de 1988) e na perícia das contaminações de Césio 137, ocorridas em Goiânia.
Seus últimos trabalhos foram a identificação das ossadas encontradas num cemitério clandestino, em Perus (SP), onde foram enterrados os mortos pela repressão política nos anos 60/70, e o esclarecimento do assassinato do seringueiro e ecologista Chico Mendes.
Massini hoje é professor universitário, trabalha na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e é assessor do Ministério da Justiça. Mantém o maior arquivo do Brasil sobre características de crimes ocorridos nas mais diversas regiões do país.
Eduardo Daruge, 61, é professor titular de odontologia legal da FOP. Trabalhou com seu ex-aluno Nelson Massini no caso Josef Mengele. O terceiro membro da equipe é Eduardo Daruge Jr., professor da Faculdade de Odontologia de Araras.
Novo aparelho
O quarto membro da equipe, Luiz Carlos Galvão, é professor de medicina legal da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e responsável pelas perícias do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, na Bahia.
Galvão defende em junho próximo tese de mestrado que apresenta um novo aparelho, já tido como revolucinário na antropometria, a ciência que estuda as medidas do corpo humano. O aparelho chama-se "craniômetro".
Pelo aparelho, pode-se determinar o sexo de uma ossada através da análise das medidas do crânio. "Isso nos confere dados muito importantes para esclarecer casos onde só encontramos o crânio da vítima", diz Galvão.
Esse novo aparelho é uma espécie de quadrante, onde o crânio fica suspenso por meio de um eixo, que o vara de orelha a orelha. Com o auxílio de réguas de alta precisão, agregadas ao aparelho, consegue-se obter 11 medidas do crânio.
Todas as medidas são tiradas a partir da distância entre o meato acústico externo (buraco do ouvido) e vários pontos da cabeça. Com essas medidas, há uma margem de acerto inédita, de até 97%, na determinação do sexo do crânio.
Antes desse método, a outra prática de análise se baseava num estudo norte-americano, chamado Giles e Elliot, que também previa determinação do sexo pelo crânio. Só que essa metodologia previa análise de medidas de apenas cinco pontos do crânio.
Para chegar ao quase grau zero de erro, o novo método desenvolvido por Luiz Carlos Galvão estuda quatro acidentes anatômicos dos crânios, para determinar-lhe o sexo: a glabela (entre olhos), o ângulo naso-frontal (ângulo do nariz), os arcos superciliares (da sobrancelha) e o apófise mastóide, que é o osso localizado atrás da orelha.
Além desse sistema, Galvão exibe no próximo Congresso de Brasileiro de Medicina Legal dois novos métodos de determinação do sexo: um pela análise das medidas dos ossos fêmur e úmero, e outro pela medição da mandíbula.
Todos essas metodologias de análise foram aplicadas, pela primeira vez, no estudo dos ossos encontrados na urna dos inconfidentes. Também podem auxiliar os estudantes de antropologia.
"Com essa nova metodologia, o índice de confiabilidade nas análises fica muitíssimo alto", avalia o professor Eduardo Daruge, orientador de Galvão. "Quase não há margem de erro".

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