São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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Fósseis contam como a baleia aprendeu a nadar

HÉLIO GUROVITZ
DA REPORTAGEM LOCAL

A baleia caiu n'água pela primeira vez no Paquistão. Pelo menos é o que sugerem fósseis achados recentemente.
"Essa foi a área onde as baleias provavelmente se originaram", diz Hans Thewissen, da Universidade do Nordeste de Ohio.
Foi no Paquistão que ele achou em 1992 restos de um ancestral da baleia com cerca de 52 milhões de anos: o Ambulocetus natans, ou baleia que andava e nadava.
"É a primeira baleia com mãos e pés completos", diz Thewissen que publicou o estudo do fóssil em janeiro na revista "Science".
Também no Paquistão Philip Gingerich, da Universidade de Michigan (EUA), achou fósseis de um cetáceo mais recente, de 46 milhões de anos: o Rodhocetus kasrani.
Era uma baleia que passava mais tempo na água que na terra, mas ainda podia se arrastar desconfortavelmente pelo chão, como um leão-marinho.
Gingerich descreveu o fóssil em abril na revista "Nature".
"Ainda não sabemos se o Ambulocetus é um ancestral do Rodhocetus, mas é possível", diz Thewissen.
Ele e Gingerich vão se encontrar em agosto para tentar decidir a questão.
Mas quem pensa que os dois fósseis encerram a história das baleias paquistanesas está enganado.
Há mais de 50 milhões de anos, o subcontinente indiano (que contém Índia, Paquistão e Bangladesh) era separado da Ásia.
Foi por volta da época em que animais como o Ambulocetus apareceram que esse subcontinente se encaixou no continente asiático.
Era um período de transição, onde a maior parte das áreas do subcontinente era formada por águas rasas, rios e pântanos.
Segundo Thewissen, esse ambiente, parte aquático, parte terrestre, favoreceu o aparecimento de animais que andavam e nadavam.
Baleias como o Ambulocetus e o Rodhocetus vieram provavelmente de animais semelhantes a lobos ou hienas, chamados mesoniquídeos.
Fósseis desses animais indicam que eles viveram provavelmente entre 63 milhões e 45 milhões de anos atrás.
Ao longo desse intervalo, mesoniquídeos devem ter se modificado até dar origem ao Ambulocetus ou a animais mais próximos às baleias, como o Rodhocetus.
Para saber como isso ocorreu é preciso ter uma idéia clara de todos os fósseis intermediários.
Segundo Thewissen, alguns fósseis mais recentes que o Ambulocetus estão sendo estudados no momento, na Índia e nos EUA.
Mas o único fóssil mais antigo que se conhece é composto apenas por um crânio e por alguns dentes (ele é chamado Pakicetus).
"Cada vez que você preenche um intervalo evolutivo, cria dois menores", diz Thewissen.
"O maior intervalo é o que ainda existe entre mesoniquídeos e o ambulocetus."
Para tentar encontrar novos fósseis que preencham esse intervalo, Thewissen viajou para Skardu, aldeia nas montanhas do himalaia, cordilheira que separa o subcontinente indiano doi resto da Ásia.

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