São Paulo, domingo, 29 de maio de 1994
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EUA relutam em criar mais empregos

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sentindo-se ameaçado de perder o emprego na onda de enxugamento das empresas, o americano quer mais segurança do que remuneração –o que faz os salários perderem a corrida para os preços.
O governo dos Estados Unidos, no entanto, começa a mostrar inquietação com a eventual pressão inflacionária dos salários.
Não que os ganhos dos trabalhadores estejam subindo. O índice de desemprego é que está caindo, o que esquenta o mercado de emprego e fortalece os sindicatos.
A queda do desemprego tem sido lenta e ininterrupta desde o início do ano.
Em abril, caiu para 6,4% da força de trabalho. São pouco mais de 8 milhões de pessoas sem trabalho. Mas as contratações estão sendo contadas às centenas de milhares por mês.
Se a tendência for mantida –o que é provável porque a recuperação não está perdendo fôlego– logo se atingirá o ponto crítico a partir do qual o salário passaria a representar risco inflacionário.
Na teoria, atinge-se esse estágio quando a oferta de mão-de-obra fica reduzida a ponto de pressionar os salários, fazendo com que subam mais do que a produtividade.
Na prática, ninguém sabe qual o índice de desemprego que detonaria o processo. O "The Wall Street Journal", baseado na experiência recente, arrisca que seria 6%.
O principal jornal para empresários dos Estados Unidos lembra que esse era o índice no final dos anos 80, quando teve início uma aceleração dos salários.
Em algumas regiões, o índice já está abaixo dos 6%. Em Michigan, por exemplo, é de 5,5%. Resultado: os salários subiram mais do que 4% nos últimos doze meses, para uma inflação inferior a 3%.
Os salários só não pressionam a inflação por enquanto porque o vigor da economia no meio-oeste é contrabalançado pelo anêmico desempenho da Califórnia, onde o índice de desemprego é 9,6%.
O perigo mora no fato de que, enquanto a economia da Costa Oeste deve se recuperar, a do restante do país não deve desaquecer.
O Fed, banco central dos EUA, procura afastar o risco aumentando os juros. Espera com isso manter a economia num ritmo controlado para que o desemprego não caia muito mais.
Há divergências sobre se as altas recentes nos juros foram suficientes para conter a tendência de queda do desemprego.
O raciocínio do Fed, que é independente do governo, é técnico. O da equipe do presidente Clinton é político: se é para tomar medidas impopulares, melhor agora do que perto das eleições de 1996.
A perspectiva de um mercado de trabalho superaquecido coloca os EUA na contramão dos países industrializados, onde o desemprego estrutural é a maior preocupação para o próximo século.
Desemprego estrutural é o que não responde, na mesma intensidade, ao estímulo do crescimento da economia. Os ganhos de eficiência, a maior produtividade, o domínio da informatização –tudo isso permite que a produção cresça sem novos empregos.
Foi o que aconteceu no Brasil no ano passado, quando a forte expansão da indústria gerou proporcionalmente poucos empregos.
Com a pequena amostragem do IBGE, nem se sabe ao certo qual o desemprego real no Brasil. Na Grande São Paulo é de 14,9%.

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