São Paulo, terça-feira, 31 de maio de 1994
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Uganda é base de apoio dos rebeldes

EDMOND KIZITO
DA "REUTER", EM KAMPALA

O governo de Ruanda acusa Uganda de apoiar os rebeldes tutsis. O presidente Yoweri Museveni tem mesmo vínculos especiais com os rebeldes ruandeses.
O caos e os massacres atuais em Ruanda são consequência direta da invasão de Ruanda a partir de Uganda, em 1990, por rebeldes determinados a fazer voltar ao país centenas de milhares de refugiados –quase todos tutsis.
A maioria deles havia fugido de sucessivas levas de massacres cometidos durante décadas, e Uganda era o país de refúgio preferido.
Museveni admite que compartilha os objetivos dos rebeldes, mas nega ter armado os guerrilheiros da Frente Patriótica Ruandesa.
Boa parte dos principais dirigentes da FPR, no entanto, foram membros do Exército dele.
Muitos deles combateram com Museveni na guerra de guerrilha que durou cinco anos e derrubou os dois últimos governos de Uganda, em 1985 e 1986.
Os massacres em Ruanda têm sua origem nos conflitos étnicos deflagrados com a derrubada em 1959 da monarquia ruandesa, que durou séculos.
Milhares de tutsis, que eram os governantes feudais, se exilaram.
A invasão de Ruanda em 1990 pela FPR foi uma tentativa por parte dos exilados tutsis de retornar a seu país e derrubar o governo da maioria hutu.
A guerra civil em Ruanda levou o governo liderado por Habyarimana a aceitar a formação de um novo governo interino e a volta dos exilados ruandeses.
Mas as iniciativas de paz, que vinham progredindo em ritmo lento, foram interrompidas com a morte de Habyarimana.
Numa entrevista em Viena, na semana passada, Museveni disse aos jornalistas que países estrangeiros deveriam manter-se fora do conflito em Ruanda.
Analistas africanos interpretaram suas declarações como evidência de que ele é favorável à vitória dos rebeldes, que no momento levam a dianteira na guerra.
Apesar de terem apoiado a força rebelde que derrubou o ditador ugandense Idi Amin, em 1979, os exilados ruandeses foram frequentemente perseguidos por sucessivos governos ugandenses.
Quando Museveni lançou sua guerra de guerrilha contra o então presidente Milton Obote, em 1981, os refugiados ruandeses se juntaram a ele.
Museveni, no poder desde 1986, tem fortes vínculos étnicos com os ruandeses. Ele nasceu no reino de Ankole, que faz fronteira com Ruanda e possui muitas semelhanças com esse país.

Tradução de Clara Allain

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