São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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171

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ontem foi o dia de Orestes Quércia, o escolhido do PMDB para presidente da República, protocolar sua defesa prévia contra a acusação de estelionato no escândalo Israel, feita pela procuradoria da República. Na televisão, como Quércia sumiu, ninguém notou. Ele estava com "agenda livre", para o Jornal da Record, e "enforcou até a segunda-feira", para o TJ.
No rádio, a coisa foi muito diferente. Na CBN, rede nacional de rádio ligada à Globo, o assunto foi tratado com o maior cuidado, para não julgar antecipadamente a candidatura etc. Mas a notícia foi manchete.
E não deu para fugir daquilo que o candidato mais teme, a estigmatização. É o que ocorre, inevitavelmente, toda vez que resolvem traduzir a acusação para uma linguagem popular. Como ontem, várias vezes. Até ecoava, no rádio: 171, 171.
Ricupero também
"No momento em que eu perceber que algum supermercado vai colocar no preço uma margem que antes ele ganhava no banco, eu vou em cima dele, mas sem a menor hesitação... E eu vou pedir também à população que nos ajude... E quem está pensando em fazer isso que pense, não dez vezes, mas cem vezes, porque nós vamos atuar com muita energia."
Foi uma sequência curta, na Globo. Mas foi o bastante para mostrar que Rubens Ricupero vai aprendendo o que é ser um ministro da Fazenda no Brasil.
Em três frases, atacou a ciranda financeira, desde já responsável pela volta da inflação; arregimentou possíveis fiscais do Ricupero; e prometeu punir os empresários que remarcarem preços. Lembrou Funaro, Zélia e os demais fundamentalistas.
Racismo eleitoral
Lula não precisa do dinheiro da CUT. Ele já tem os cutistas atuando –como uma máquina, mas não oficialmente– em favor de sua campanha e contra as demais. Contra Fernando Henrique, em particular. Agora é uma tal de Comissão Nacional de Luta contra o Racismo, da CUT, que apareceu em Belo Horizonte para "lutar" contra o adversário tucano de Lula.
Deu no Jornal da CBN, no rádio, em cobertura até longa: "A CUT pretende entrar na Justiça contra Fernando Henrique por incentivo ao racismo."
E depois vem José Genoino afirmar que a campanha tem que cuidar mais dos verdadeiros problemas da sociedade brasileira e menos das frases de efeito –e de péssimo efeito– como aquela do "mulatinho".

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