Folha de S.Paulo - Para debatores, só a revisão não basta

São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994

Para debatores, só a revisão não basta

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A convocação da assembléia revisora exclusiva não resolveria, por si só, problemas básicos do país, como a má distribuição de renda e vícios do sistema político.
Essa foi a posição de três dos quatro participantes do debate "A revisão exclusiva é necessária?", realizado na Folha: Adib Jatene, José Augusto Guilhon Albuquerque e Vicente Paulo da Silva.
O debate, no dia 26, foi mediado por Otávio Dias, coordenador de Artigos e Eventos da Folha.
Vicentinho (presidente da Central Única dos Trabalhadores) acompanhou o coordenador-geral do Pensamento Nacional de Bases Empresariais, Emerson Kapaz, na defesa da revisão exclusiva. Ambos consideraram inviável a convocação imediata da assembléia.
Kapaz e Vicentinho avaliaram que as eleições deste ano impediriam a aprovação de mudanças que consideram necessárias.
"Será que esse é o momento político adequado? Tanto não é que a revisão da Constituição não andou", observou Kapaz.
Os outros dois debatedores não apóiam a proposta de convocação da assembléia revisora. Adib Jatene, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a considera pouco factível: "Idealmente talvez até fosse interessante, mas na prática eu acho que é difícil de realizar".
Na opinião de Guilhon, professor titular de ciência política da Universidade de São Paulo, o principal problema do país -a falta de estabilidade política- não seria resolvido por uma revisão exclusiva.
As mudanças na Constituição são consideradas fundamentais por Kapaz. Em sua opinião, o país não poderá enfrentar a concorrência internacional se não realizar reformas estruturais.
"Mas não dá para fazermos tudo isso açodadamente." Kapaz é contra a convocação neste ano, mas quer que a revisão exclusiva ocorra "o mais rápido possível".
Vicentinho é mais vago sobre o momento ideal. Diz apenas que a revisão deve ocorrer quando houver "estabilidade" no país.
Segundo Jatene, a revisão exclusiva é cercada por uma série de dúvidas sobre as regras para sua convocação e seus candidatos. "Precisamos saber se é conveniente discutir esses pontos quando o país enfrenta outros problemas."

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