São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A difícil tarefa do professor

RONALDO RODRIGUES

As pessoas entregues à laboriosa arte de ensinar, por abnegação, entusiasmo e, primordialmente, por vocação, têm assistido ao desmantelamento do trinômio educador, ensino, escola, que com o passar dos anos foi desmanchando-se até conduzir os educadores a um mar de descrédito, desalento e tristeza.
A destruição, a desvalorização e o enquadramento do educador a certas atitudes conduziram a escola à quebra da disciplina, do respeito aluno-professor e, principalmente, causaram o divórcio do ensino com a língua e a cultura nacional.
Utilizam as escolas como se elas fossem a solução de toda a problemática social brasileira, fazem delas creches, reformatórios, ambulatórios e até restaurantes, motivando uma real desobrigação com o conceito de educação, com a arte de ensinar e com a verdade da apredizagem, levando a constatar que a maioria da juventude brasileira está mais analfabetizada a cada ano que passa por causa de interesses ocultos, cujas prioridades não passam de grandes discursos e belas oratórias.
Consumou-se um sistema de formação de profissionais no magistério que aumenta o número do contigente de pessoas habilitadas a ministrarem aulas, baseadas única e exclusivamente em livros didáticos.
Por exemplo: um advogado advoga e leciona; por que um educador que leciona não pode representar-se em uma audiência no fórum? Assim como o que assegura a um advogado ministrar aulas são os livros didáticos, o que pode assegurar ao educador assistir e participar de uma audiência são os livros jurídicos. E aí?!...
Massificaram de tal forma a classe de educadores que hoje ela não consegue ser nada mais do que uma classe trabalhadora e pouco produtiva aos olhos da sociedade.
Destarte, a remuneração recebida é condizente com a realidade. A realidade é que não condiz com a verdade. E a verdade é nada mais do que a inversão profunda dos valores e conceitos da ética da profissão. Ninguém chega a profissionalizar-se em nada sem antes passar pelas mãos dos educadores.
Então, de quem é a culpa? Esse problema, essa situação que tende a uma calamidade nacional, vem perdurando por alguns anos e levando os educadores à miséria moral e financeira, pois, na realidade, educador no Brasil é a pessoa que ninguém enxerga quando está presente, mas cuja falta todos logo sentem.

Texto Anterior: Mato Grosso do Sul 1; Mato Grosso do Sul 2; Mato Grosso do Sul 3; Mato Grosso do Sul 4
Próximo Texto: Projeto quer reduzir poluição em represa
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.