São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994 |
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'Bivouac' ocupa BH com teatro de massa A peça abriu o Festival Internacional de Belo Horizonte NELSON DE SÁ
Com mise-en-scène semelhante à do grupo La Fura dels Baus, de Barcelona –não muito distante da sede da Générik Vapeur em Marselha–, a companhia francesa mistura show de rock com provocações físicas, correndo contra o público, com grandes barris de metal também usados como plataformas e como maior ponto de referência cenográfica para as apresentações, que se passam apenas na rua. É um desfile, mais do que um espetáculo fechado. Começa com uma concentração para atores e público, até a entrada do carro de som, que chega já tocando, priorizando guitarras e instrumentos de percussão. Começa então a procissão, que dura cerca de duas horas, com público crescente –em número mas também em envolvimento, alcançando em certos momentos a histeria, como em todo show. Não há, obviamente, um enredo. Muito menos um texto ou um diálogo. Mas há um norteamento no espetáculo, que é aquele que vai ficando evidente a cada meio quarteirão: o objetivo é romper a ordenação urbana, não só de automóveis ou edifícios –aliás, o que pouco interessa–, mas a ordenação social. Cada ação, como correr com os barris ou subir nos pontos de ônibus, tem o mesmo fim. Ele é explicitado, como metáfora, na última cena, que em Belo Horizonte foi realizada junto à estação ferroviária. Dezenas de barris, empilhados, formam uma pirâmide imensa que vem abaixo, rolando em direção ao público, que grita com felicidade em meio ao som pesado dos músicos do grupo. Reação que lembra aquela dos grandes estádios, onde o perigo aumenta a excitação do público. Não que "Bivouac" seja mais ou menos perigosa, comparada a outras peças de rua. Exige um acompanhamento de perto da polícia de trânsito e até mesmo dos bombeiros, como acontece com La Fura dels Baus, mas está longe de deflagrar reações de agressão, como acontece no futebol. Em Belo Horizonte, com bebês, crianças pequenas, velhos e grávidas, não houve machucados ou incidentes. Mais importante, o desfile todo foi acompanhado com intensa alegria, como em algum Carnaval. Saindo de um parque e atravessando o centro da cidade, levou quem apareceu na frente, rompendo a pirâmide social a que o grupo se reporta com a apoteose dos barris espalhados. Criou ambiência própria, com casais se beijando, coros espontâneos, coreografias espontâneas, uma festa da cidade. Título: Bivouac Quando: última apresentação amanhã, às 16h Onde: Praça da Liberdade, em Belo Horizonte Texto Anterior: Pequenas decisões afetam o Universo Próximo Texto: Atraso mental tranca campos e rios do país Índice |
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