São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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Pavement quer tocar no Brasil em janeiro

O líder Stephen Malkmus falou de NY

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Pavement tem um lugar especial no coração da crítica. Independente, de princípios e incorruptível, só tem em comum com certos políticos o descaso.
Por isso, já foi rotulada de "slackers", largadona, denominação que pegou na mídia após o lançamento do filme independente "Slacker", de Richard Linklater.
O segundo LP da banda (sem contar uma coletânea), "Crooked Rain, Crooked Rain", está saindo no Brasil pelo selo Natasha.
A banda já programou viagem para o Brasil, em um dos festivais do início de 95, revela à Folha, por telefone, o vocalista, guitarrista e líder Stephen Malkmus.
Ele fala do Brooklin, em Nova York, onde divide um apartamento com o outro Stephen da banda, o baterista Stephen West.

Folha - Porque a crítica gosta tanto de Pavement?
Stephen Malkmus - Porque somos pop e artísticos o suficiente, mas não em excesso.
Folha - Mas a crítica também rotula a banda de "slacker".
Malkmus - Acho que nos chamam assim porque não assinamos com uma grande gravadora, o que faz parecer que não nos importamos com nada. Além disso, fazemos música arrastada.
Folha - A opção de permanecer independente é política?
Malkmus - Não, é comercial. As "majors" são como uma grande família, com parentes espalhados pelos quatro cantos, que você só vê uma vez ao ano. E quando se encontram, não há comunicação, porque ninguém se conhece.
Folha - Mas agora o selo que lança os discos da banda, Matador, foi comprado pela Warner.
Malkmus - A diferença é que agora temos a distribuição de uma "major", mas em relação aos negócios, Matador toma conta de tudo –a pequena família de dez pessoas que conhecemos bem.
Folha - Como vocês lidam com o aspecto promocional, como o clipe de "Cut Your Hair", que a MTV passa no seu programa de rock "alternativo"?
Malkmus - Infelizmente, uma das nossas obrigações são os clipes. A coisa boa é que podemos fazê-los do jeito que quisermos. O vídeo de "Cut Your Hair" é minimalista. Não gostamos do fato de a maioria dos vídeos custar mais do que custou gravar um álbum.
Folha - O rock não tem nada de novo para oferecer, como diz a letra de "Fillmore Jive"?
Malkmus - Dizer que o que acontece agora nunca aconteceu antes é falso. Os 90 não são diferentes do início de outras décadas.
Quando os Beatles e os Stones surgiram, também se dizia "esse é o novo rock'n'roll". Agora, temos Nirvana no lugar dos Beatles.
Folha - Nessa perspectiva, onde se encaixa o ataque à chamada "cena alternativa" da música "Cut Your Hair"?
Malkmus - A música faz piada com a cena, mas também esperamos que faça as pessoas acordarem para o fato de que a cena não é alternativa de modo algum, mas uma reprise de outras décadas.
Folha - Por que as letras no novo álbum são menos oblíquas do que nos discos anteriores?
Malkmus - Gravamos em Nova York, onde as coisas são escancaradas. "Crooked Rain..." é uma visão sarcástica da cidade, especialmente a cena musical.
Folha - Michael Stipe, cantor do R.E.M., gostou de ser homenageado na música "Unseen Power of the Picket Fence"?
Malkmus - Acho que gostou. Ele veio num show e nos elogiou. R.E.M. foi uma das coisas que nos inspirou a formar Pavement.

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