São Paulo, sábado, 4 de junho de 1994
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As procissões da Eucaristia

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A festa litúrgica do "corpo de Cristo" convocou o povo de Deus para o culto público e solene da Eucaristia. Em muitos lugares organiza-se a procissão festiva com o Santíssimo Sacramento, pelas ruas e praças. O contato mais frequente com os fiéis das cidades de Minas, especialmente da arquidiocese de Mariana, revela a fé e a piedade de nosso povo.
Há muitas outras procissões eucarísticas que acontecem despercebidas na roça e em nossas cidades do interior. Visitando as paróquias mais distantes, passando pelas estradas de terra, vou encontrando, ao longo de quilômetros, o povo simples que caminha a pé, em direção à matriz e às capelas. Não medem sacrifícios. Crianças no colo. Roupas domingueiras. Alegria no coração. Levam flores e cantam. Nada os demove de ir à igreja.
Há poucos dias, era já tarde, quando percebi pela estrada uma senhora apoiada em seu bastão. Perguntei-lhe aonde ia. Disse-me que caminhava de véspera para não perder a missa do dia seguinte. É a fé em Jesus Cristo que explica a têmpera dessas pessoas simples. Temos muito que aprender com nosso povo. Seu exemplo nos faz bem e desperta a fé em nosso coração, ajudando-nos a perceber melhor as riquezas do mistério da Eucaristia.
Na última ceia, Jesus Cristo ofereceu sua vida por amor. Entregou por nós seu corpo e seu sangue. Ao acrescentar as palavras "fazei isto em memória de mim", instituiu a Nova Aliança, o memorial perene e a renovação do seu ato supremo de amor. Assim, o mesmo sacrifício faz-se presente entre nós, estendendo, através dos tempos, os frutos da sua morte e ressurreição e a promessa de vida eterna.
Em cada celebração eucarística de que participamos com fé, aumenta em nós a certeza do amor que Deus nos tem. O corpo de Cristo é o alimento que nos sustenta para cumprirmos o mandamento do senhor: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amo". Aí encontramos a força para vencer as tentações, perseverar na graça de Deus e fazer da caridade de Cristo, a regra de nossa vida. Crescem atos de maior doação ao próximo. O amor vai-se tornando gratuito, aberto a todos, mais sensível aos necessitados e aflitos, generoso e capaz de partilhar com os outros os bens recebidos, deixando-se possuir pela sede e fome de justiça e fraternidade. São conhecidos os atos heróicos de homens e mulheres que encontraram na eucaristia energias para, sem medir sacrifícios, se dedicar a doentes, encarcerados, idosos e crianças abandonadas.
O mistério do corpo de Cristo renova e revigora nossa esperança na vida eterna. Celebramos a vitória sobre a morte, a ressurreição, a certeza do banquete na casa do Pai e a expectativa da comunhão plena com Deus e entre nós.
A fé nos ilumina sobre a dimensão comunitária e fraterna da celebração eucarística. Cristo continua reunindo seus discípulos para que ouçam sua palavra e renovem seu sacrifício. Os que participam do mesmo pão consagrado formam um só corpo, uma só família. Compreendemos, então, a atração tão forte que o povo de Deus sente para caminhar léguas e se encontrar na assembléia dominical. É a procissão que se repete a cada semana.
Quem não fica feliz ao caminhar para reunir-se com os irmãos, a fim de louvar o Senhor, receber e agradecer o dom portentoso do corpo e do sangue, prova de amor supremo de Jesus Cristo?
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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