São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Um terço dos policiais civis são acusados por crimes

ANDRÉ LOZANO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

O Ministério Público de Manaus denunciou, através de uma pesquisa feita pela própria instituição, que pelo menos 30% dos policiais civis da cidade estão envolvidos em crimes.
Os promotores públicos João Bosco Sá Valente e Carlos Coelho –autores da pesquisa– encaminharam um ofício à Procuradoria de Justiça do Estado.
No ofício, os promotores denunciam a formação de quadrilhas de extermínio com a participação de policiais civis.
Este número representa cerca de 30% do efetivo da Polícia Civil: 1.100 homens.
O delegado-geral da Polícia Civil de Manaus, Hélio dos Santos Rocha, disse que em 93 foram demitidos "a bem do serviço público" 31 policiais.
Eles foram julgados culpados em crimes que cometeram em exercício da função.
Outros 52 policiais respondem a processos administrativos.
Cerca de 250 policiais acusados de crimes –que constam na lista do Ministério Público– continuam trabalhando normalmente.
Segundo o levantamento, o crime cometido com maior frequência pelos policiais é o de lesão corporal: 102 casos.
Em seguida, vem os homicídios (com 47 ocorrências) e extorsão (13 casos). Segundo a pesquisa dos promotores, apenas um policial foi condenado.
"Hoje você não distingue quem é policial ou bandido dentro da Polícia Civil de Manaus", disse o promotor João Bosco Sá Valente.
Ele está investigando o suposto aparecimento de um novo esquadrão de extermínio na cidade, que teria envolvimento de policiais civis e militares.
A organização criminosa seria conhecida como "firma".
"Estamos no rastro desse esquadrão. Ficamos sabendo de sua existência a partir de informações de alguns policiais que se desentenderam com a cúpula da organização", afirmou Valente.
Segundo o promotor Carlos Coelho, a "firma" se encarrega da execução de traficantes e supostos criminosos perigosos.
"Quando vamos ver a ficha criminal das pessoas mortas, encontradas na periferia, vemos que elas, em sua maioria, não têm passagem pela polícia."
"É sempre a mesma justificativa para os corpos desovados (deixados na periferia): briga de quadrilhas", afirmou Coelho.
Número `preocupante'
Para o secretário de Justiça, Segurança Pública e Cidadania do Amazonas, Mauro Marques, o núemro de policiais envolvidos em crimes não é "alto".
"Mas se considerarmos o universo de policiais civis, é um núero preocupante", declarou.
O secretário afirmou que o governo estadual não obstruiu as investigações do Ministério Público.
Ele culpa a lentidão da administração da Polícia Civil pela demora na apuração dos casos.
Segundo ele, todos os policiais que estão respondendo a processo por crimes de homicídio, estupro, furto e lesão corporal estão afastados de suas funções.
"O grande problema nosso é que, em qualquer instituição, ou não se pune ninguém ou se pune pouco. A própria lei brasileira abre brechas administrativas que dificultam as punições", afirmou.
Marques disse que há a possibilidade de existir de fato grupo de extermínio em Manaus formado por policiais civis e militares.
"Eu acredito que pode haver um grupo de extermínio por parte de policiais", disse Marques.

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