São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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Cadeira elétrica não reduz dor

DA "THE PHILADELPHIA INQUIRER"

À medida que os enforcamentos se tornavam cada vez mais macabros, os Estados norte-americanos começaram a procurar um método "mais humanitário" e acabaram optando pela cadeira elétrica.
A primeira eletrocussão judicial no mundo foi realizada na prisão Auburn, em Nova York, em 8 de agosto de 1890. A vítima era William Kemmler, um assassino.
Ele não pôde dormir na noite anterior, porque os operários ainda preparavam a sala da morte. Quando Kemmler chegou para ser executado, eles ainda não haviam terminado. Ele se sentou numa cadeira e viu os preparativos finais.
Uma testemunha descreveu o que aconteceu depois da primeira carga elétrica: "Uma espuma arroxeada cobriu os lábios e se espalhou sobre a faixa de couro que cingia sua cabeça... Carcereiros, médicos, guardas –todos ficaram fora de si. Um grito assustado se ouviu, pedindo que a corrente fosse ligada outra vez. Kemmler estava morto. Parte de seu cérebro havia sido assado e endurecera".
A execução levou quase uma hora, enquanto várias voltagens eram testadas. O promotor responsável pela acusação desmaiou na área reservada às testemunhas.
Treze Estados americanos usam a cadeira elétrica. Ainda se discute a dor sofrida por uma pessoa eletrocutada antes de morrer. Muitos médicos acreditam que o condenado se sente queimando até a morte e sufocando, pois o choque elétrico provoca parada respiratória.
Algumas vítimas da cadeira elétrica deram sinais de vida horas depois de terem sido declaradas mortas. Acredita-se que foi isso o que levou os Estados a exigirem autópsias dos presos executados –ninguém dá sinais de vida depois de passar por uma autópsia.
O médico Harold Hillman estudou autópsias de 13 homens executados nas cadeiras elétricas da Flórida e de Alabama entre 1983 e 1990 e concluiu que "a eletrocussão é muito dolorosa", porque a morte nunca é instantânea.
O juiz William Brennan, da Suprema Corte, fez a seguinte descrição: "Às vezes os olhos de um preso saltam fora das órbitas e caem sobre suas faces. O preso frequentemente defeca, urina e vomita sangue. O corpo fica vermelho vivo, à medida que sua temperatura sobe. A carne incha e a pele se estica a ponto de se romper. Às vezes o preso pega fogo, especialmente quando transpira muito".
O jornalista Don Reid, que testemunhou 189 eletrocussões entre 1938 e 1964, fez a seguinte descrição: "Os lábios do homem se retraem, sua garganta se estica, o corpo se arqueia contra as correias, enquanto o gerador assobia... O rosto fica roxo; vapor e fumaça sobem de pontos calvos na cabeça e nas pernas; o cheiro asqueroso da carne queimada permeia a sala".
Em 27 de agosto de 1893, William G. Taylor foi amarrado à cadeira elétrica de Nova York, dando início ao que seria conhecido como a única "execução dupla". Diz uma testemunha: "Suas pernas ficaram rígidas e arrancaram a frente da cadeira, onde seus tornozelos estavam amarrados. Sem apoio, a cadeira caiu de frente, com Taylor ainda amarrado a ela. O carcereiro gritou para desligarem a eletricidade. Todo mundo começou a correr. Taylor ainda estava vivo! Acharam um caixote para apoiar a cadeira.
"A alavanca foi acionada novamente. Nada aconteceu. O gerador havia quebrado. O carcereiro mandou desamarrar Taylor e o colocou numa maca, onde os médicos lhe administraram remédios contra a dor. Estenderam novos cabos da rua até a cadeia. Quando terminaram, Taylor já havia morrido na maca. Mas os juízes decidiram que a lei não havia sido cumprida. O carcereiro mandou recolocar o homem morto na cadeira quebrada. A corrente foi ligada. Quando tudo terminou, o carcereiro enxugou a testa e anunciou: `Senhores, a justiça foi feita' ".

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