São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Para Ipea, Proalcool não tem função social
JOÃO BATISTA NATALI
O Ipea é um órgão do Ministério da Fazenda e o Proalcool (Programa Nacional do Álcool) foi criado em 1975 para estimular a produção de combustível que substituísse a gasolina e o óleo diesel. Na época, o objetivo primordial do governo era limitar a dependência de matéria-prima energética importada e conter o rombo provocado nas contas externas pela crise do petróleo. Mas a expansão da economia sucroalcooleira foi paralelamente vista como um instrumento de reequilíbrio das disparidades regionais, de fixação do trabalhador no campo, de aumento da renda rural e de modernização das relações de trabalho. Esses objetivos teriam sido plenamente alcançados, segundo o "Relatório de Auditoria Operacional do Proalcool", aprovado em dezembro de 1990 pelo Tribunal de Contas da União (TCU). É justamente o que desmentem os dados agora compilados por uma equipe contratada pelo Ipea, coordenada por Rudá Ricci e financiada pelo Banco Mundial. O trabalho, intitulado "Mercado de Trabalho no Setor Sucroalcooleiro no Brasil", demonstra, por exemplo, que o Proalcool estimulou as disparidades regionais. O Nordeste, que na safra 75/76 tinha 37% da produção nacional, participa hoje só com 21%, enquanto São Paulo, que possuía 44%, tem hoje 61%. Isso se dá, em primeiro lugar, em razão de um processo de concentração provocado pelo elevado aporte de capital e de tecnologia que rentabilizem as usinas. Em São Paulo, entre 1970 e 1985, caiu em 30% o número de estabelecimentos rurais em áreas de monocultura e em 10% em áreas que não cultivam exclusivamente a cana. Ao mesmo tempo, a área plantada com cana cresceu mais de três vezes em São Paulo entre 1975 e 1985, enquanto no Nordeste ela apenas duplicou. Ainda no quadro sucroalcooleiro paulista, 65% da produção estão concentrados nas regiões de Ribeirão Preto e Campinas, enquanto em Minas Gerais quatro usinas produzem 59% do açúcar e em Goiás duas delas controlam a produção do açúcar e do álcool. "Aconteceu o contrário do que existe na lavoura do café", diz Ricci, o coordenador da pesquisa. "Aquela cultura é mais extensiva e distribui mais renda porque está baseada na exploração familiar", afirma. Texto Anterior: Igreja terá maior rede de rádio do país Próximo Texto: Tarifas bancárias encarecem com real Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |