São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Fintec avança em novos negócios

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada vez que fecha um novo negócio, o consultor paulista Marco Vita, 46, manda gravar numa simbólica lápide de vidro o nome do cliente a quem ajudou a vender ou a comprar uma empresa.
Se tudo correr conforme o programado, o 12º troféu vai se juntar à coleção de Vita até o final desta semana.
É que entrou na reta final uma negociacão que se prolonga há 14 meses entre dois pesos pesados multinacionais.
A Pirelli prepara-se para transferir ao BTR uma fábrica de mangueiras e correias instalada na Argentina, além de equipamentos.
O consultor se recusa a revelar cifras ou fornecer detalhes da negociação. "O segredo é a arma principal de nossa atividade".
Afirma, no entanto, que por envolver contrato internacional, foi a mais complexa já conduzida por ele e seus dois sócios à frente da Fintec, banco de negócios que os três, ex-executivos da Pirelli, adquiriram do grupo, em 1992.
O dedo da Fintec esteve atrás de algumas das aquisições mais comentadas do mercado, como as dos laticínios Teixeira e Lacesa, que engordaram o patrimônio da Parmalat.
Mais recentemente, a Fintec ajudou o Grupo Pão Americano a viabilizar a venda da Kinoko, uma indústria de conservas, para a Arisco.
Segundo Vita, as perspectivas até o final de 1994 são excelentes. Ele calcula em US$ 1 bilhão, entre comissões e participações acionárias, o total que será colhido no período pelas consultorias e bancos especializados em fusões e aquisições.
"Devem mudar de mãos empresas cujos faturamentos somam até US$ 3 bilhões", prevê.
Os setores alimentício, de autopeças e de embalagem, figuram entre os principais alvos dos investidores.
"Empresas de grande porte tratam de expandir-se para reforçar o poder de barganha com fornecedores e clientes", afirma.
A própria Fintec conduz, há um ano, negociação entre dois grandes grupos alimentícios, um brasileiro, outro europeu, visando firmar uma joint venture.
Vita diz que a Fintec opera no estilo de uma butique, com atendimento personalizado, e não tem empresas "na prateleira".
Somente após delineado o plano estratégico é que são iniciados os contatos para identificação do comprador ou vendedor.
Essa busca é feita sob total sigilo. Tão rigoroso é o zelo que nos computadores do escritório da Fintec, na zona sul, os projetos estão codificados e os nomes das empresas envolvidas são fictícios.
"Não utilizamos mala direta e evitamos correspondências. Nem a secretária sabe dos negócios entabulados", acrescenta.
Quando se trata de grandes empresas, o comprador só é revelado quando senta à mesa para assinar os papéis. É para evitar especulação de preço por parte do vendedor, em geral uma pequena ou média empresa.
Se a negociação é bem-sucedida, o que demora de nove a 12 meses, a Fintec é remunerada com o correspondente a percentuais que variam de 2% a 6% sobre o valor da transação.
A taxa de risco nessa área é ponderável. Com mandato para a compra da Bombril conferido por uma empresa alemã, a Fintec, após seis meses de negociação, foi surpreendida pela entrada em cena do grupo italiano Cragnotti, que em uma semana comprou a empresa.
Na ponta dos vendedores, há dificuldade para passar à frente empresas cuja receita seja inferior a US$ 10 milhões.
"O mercado de aquisições está voltado para a faixa de US$ 15 milhões a US$ 70 milhões", diz.
A alternativa, em tais casos, consiste em promover a fusão de duas ou três empresas do mesmo ramo, criar uma holding (empresa mãe), cortar custos e assim elevar a receita e o valor de venda.
Uma reestruturação societária desse tipo está sendo arquitetada no momento pela Fintec no setor de embalagem plástica.

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