São Paulo, segunda-feira, 6 de junho de 1994
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Legião Urbana "faz as pazes" com SP

HUMBERTO FINATTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O grupo Legião Urbana se apresenta dias 16 e 17 em São Paulo, depois de quatro anos de "greve" de palcos paulistanos.
Em 12 anos de existência, o Legião, apesar da imagem de "difícil", vendeu mais de um milhão de discos e, principalmente, arrebanhou uma multidão de fãs.
O Folhateen passou o último feriado com os legionários, no Rio. Mais que uma entrevista, o grupo, sempre às turras com a imprensa, bateu papo.
Atendendo mais aos pedidos dos próprios fãs –que atulharam a Redação com cartas–, o grupo fala sobre música, homossexualismo e Copa do Mundo.
Deve ser por isso mesmo que Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá continuam sendo "aqueles-caras-que-falam-o-que-a-gente-queria-dizer".
Palco
Renato Russo – A banda está há quatro anos sem tocar em São Paulo. Tocamos em todo o Nordeste. Muitas pessoas vão ao show, sem nunca terem visto o Legião. Acho isso muito bom.
Bonfá – É gente que tinha seis ou sete anos quando a gente começou.
Russo – É, se a pessoa tem 14 anos hoje, quer dizer que ela tinha quatro quando lançamos o primeiro disco. A melhor coisa no show do Legião é o público. Dá vontade de ficar parado, olhando. Todo mundo canta e vibra.
Agressividade
Dado – Hoje em dia, depois dessa apresentação em Porto Alegre (o grupo fez show há duas semanas lá), as pessoas já vão preparadas para absorver o que a gente vai passar, que não é violência. É uma celebração.
Russo – Já houve um tempo em que eu achava necessário ter uma postura agressiva. Era como eu, como a gente, queria se expressar, ora bolas.
Hoje não acho mais. Porque a violência está na vida das pessoas. O público demonstrava afetividade tacando coisas no palco, sendo agressivo. Nós tínhamos uma postura agressiva, falávamos certas coisas, mas ao mesmo tempo era uma coisa meio intimista e tímida. Talvez isso desse uma certa abertura para o público agir daquela maneira.
Adolescentes
Dado – Eu acho que eles não têm informação. A gente teve contato com esse público em um programa de TV e foi assustador. Ficamos nos questionando: eles não entendem o que está sendo dito.
Russo – Acesso, tem. Mas não tem interesse. Olha eu acho uma coisa bem boba marcar as pessoas como gado. Cada ser humano, jovem ou criança é diferente.
Bonfá – Acho que essa galera é muito mais esperta do que a geração que passou.
Russo –É um pessoal que não tem maiores vícios. Podem não acreditar em muitas coisas. Também não acreditam em bobagens.
Dado – Do lado da minha casa tem uma seção eleitoral. Até ontem, último dia de cadastramento de jovens maiores de 16 anos, tinha uma fila dobrando o quarteirão. Essas pessoas tiram o título de eleitor, não porque são obrigadas, mas porque estão a fim de votar.
Russo – Acho muito fácil as pessoas sentarem suas bundas gordas na cidade e ficarem definindo a juventude. Não tenho que saber como é a cabeça do jovem. Tenho é que, como cidadão, ajudar as pessoas que vem depois de mim, a ter uma oportunidade.
Homossexualismo
Russo – Eu não acredito que uma pessoa tenha definição de sua vida sexual até os 25 anos. A pessoa não está formada. Para mim isso é uma coisa absolutamente normal. De uma vez por todas: o que existe é sexo. Fui educado para ser honesto e sincero. Chegou um momento em que decidi não escrever mais essas músicas, recebendo cartas de fãs e enganando meu público. Se eu sou de uma determinada maneira, me aceite como sou. Se não gosta, problema seu.
Copa
Dado – Acho que a seleção brasileira já está escalada. É isso mesmo e seja o que Deus quiser. Torcemos para que o Brasil ganhe.
Russo – Eu gostaria que, se o Brasil ganhar, a vitória fosse bonita. Se o Brasil perder, os rapazes da seleção não devem virar bodes expiatórios e o país um caos. Há coisas mais importantes que onze caras correndo atrás de uma bola.

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