São Paulo, quarta-feira, 8 de junho de 1994
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Guerrilha urbana

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi uma manifestação com três dezenas de carros-fortes, anunciou o Jornal Nacional. Um deles, como mostrou o SP Já, trazia um cartaz dizendo "morreu nosso companheiro". Falava de um assalto acontecido na madrugada. No momento em que eram feitas as imagens da concentração na Paulista, outro carro-forte, "por ironia", na expressão do Jornal Bandeirantes, estava sendo assaltado na zona sul. Em São Paulo.
É para ver que não é só no Rio de Janeiro que o crime organizado vai tomando conta. Os dois crimes em São Paulo, no mesmo dia, assustaram os vigilantes e um diretor do sindicato, com o rosto cansado, até com algum medo, disse à Record que o número de crimes já dobrou o do ano passado, em apenas cinco meses deste ano. "Nós nem consideramos assalto. Isso é uma guerrilha."
Está certo ele. Não é à toa que, para distribuir as notas da nova moeda, o real, o Tesouro já está usando soldados do Exército, que ontem chegaram a armar "barricadas" em São Paulo, como mostrou o Rede Cidade. Barricadas, como se fosse uma guerra. É para ver como anda o poder dos guerrilheiros dos comandos todos.
O último populista
Digam o que disserem, Leonel Brizola sabe das coisas da política. O último dos grandes populistas do Brasil participou ontem da série de encontros com presidenciáveis na Associação Comercial do Rio, que é transmitida ao vivo pela Manchete. Em tudo, um grande orador. De uma oratória à antiga, mas que agora, depois de cinco anos e depois de Collor, não parece mais tão atrasada.
Ele sabe como dar um jeito de falar o que deseja, mesmo quando não perguntado. Coisas como lembrar a "ignorância" e o "despreparo" de Lula, sem que isso pareça preconceito contra o operariado –no caso, deu como desculpa o ataque do petista aos Cieps. E coisas como dizer que o seu governo não foi pior do que o de ninguém. "Até Tasso Jereissati pegou dengue", lembrou, rindo.
E o grande golpe, o maior. Perguntado, obviamente, sobre a violência carioca e a sua responsabilidade por ela, começou lendo um texto de imprensa em que alguém descrevia o horror dos crimes no Rio de Janeiro, com todos os detalhes de hoje. Ao final, deu a data: "Isso foi no dia 7 de janeiro de 1981." Aquela mesma platéia, formada por empresários nada satisfeitos com o seu governo, rendeu-se –e aplaudiu a esperteza.

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